Especialistas na área da saúde avaliam que o Estado de São Paulo ainda não atingiu o pico de casos do novo coronavírus (covid-19). Apesar disso, uma parcela de cidades já anunciou planos de flexibilização das quarentenas e retomada das atividades econômicas, o que preocupa cientistas, devido às chances de piora na crise sanitária caso não haja estratégias de higienização e fiscalização por parte do poder público.
Em entrevista ao RD, o professor da Faculdade de Medicina do ABC, Juvencio Furtado, analisa o possível cenário de flexibilização gradual no ABC. “Se for algo planejado e determinados setores aderirem aos cuidados básicos de higienização, é possível que haja uma reabertura gradual, no entanto se faz necessário um planejamento consciente para que o cenário de pandemia não piore”, diz.
A higienização das mãos, uso de máscaras de proteção, limitação de espaços físicos e distanciamento social são alguns dos requisitos imprescindíveis para o afrouxamento, na visão do médico, que reitera ainda a necessidade de fiscalização em áreas de aglomeração, caso de comércios e transportes públicos. “Precisamos cobrar as prefeituras e até mesmo o Estado para que haja o mínimo para as pessoas se precaverem com higienização”, avalia.
Para Furtado, a transmissão da doença é algo que vai continuar a longo prazo, mas o que se avalia diante da flexibilização, são as pessoas infectadas. “O Governo do Estado faz a liberação conforme a curva de contágio, se apresenta queda ou alta em um determinado período”, explica. “Percebemos que no ABC esse afrouxamento ainda não ocorreu porque os governos não estão totalmente preparados. Sem fiscalização eficiente e com a população parcialmente conscientizada, a situação complica”, completa.
Já para o pneumologista e pesquisador do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Elie Fiss, que também é professor titular de pneumologia da Faculdade de Medicina do ABC, a situação vai além, faltam ainda testagens para toda a população na rede básica da saúde. “A falta de testagem é um dos pontos mais desafiadores, não só na região, mas em todo o Estado. O ideal seria que estivéssemos mais bem preparados e abastecidos antes da reabertura, ainda que gradual”, analisa.
Diagnóstico
Uma das alternativas elencadas pelas prefeituras, foi a adesão da testagem rápida para detecção da covid-19, medida que na visão do médico não é tão eficaz e que pode mascarar o número de infectados na região. “Esse tipo de testagem pode até ajudar, mas tem uma grande margem de erro, cerca de 30%”, diz Fiss, que defende ainda maior investimento nas testagens feitas através de sangue e plasma, que trazem resultados mais claros e precisos.
O pesquisador analisa ainda que, o momento de flexibilização está associado também ao número de vagas em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). “A Prefeitura de São Paulo diz que a cidade está dentro da faixa prevista para a liberação gradual, mas o mesmo não acontece em outros municípios. Particularmente penso que falta um controle centralizado dessas informações para que, somente após fiscalização individual, haja liberação das cidades que seguiram as determinações dos órgãos de saúde”, defende.
O mesmo se aplica ainda para as cidades que adotarem estratégias em ambientes que ainda não foram discutidos, caso dos transportes públicos, um dos maiores desafios no campo da ciência diante da pandemia da covid-19. Na visão do pneumologista, também é essencial a fiscalização recorrente nos ônibus, metrôs e outros modais para evitar o contágio da doença. “O transporte coletivo atual não está preparado para a flexibilização, uma vez que não há distanciamento social adequado e limpeza constante a cada viagem”, diz. “Para a área médica esse setor ainda gera grandes preocupações e pede estratégias eficazes para evitar uma segunda onda da doença”, completa.
Casos de covid-19
Nesta segunda-feira (8/6), o Estado registrou 9.188 óbitos e 144.593 casos confirmados pelo novo coronavírus. Entre as pessoas diagnosticadas com a covid-19, 27.118 mil foram internadas, curadas e tiveram alta hospitalar. Dos 645 municípios do território paulista, houve pelo menos uma pessoa infectada em 561 cidades, sendo 292 com um ou mais óbitos.
As taxas de ocupação dos leitos de UTI são de 75,5% na Grande São Paulo e 67,5% no Estado. O número de pacientes internados é de 12.608, sendo 7.792 em enfermaria e 4.816 em unidades de terapia intensiva.