Publicitários dizem que quarentena não teve êxito por divergência política

Paulo Cesar Ferrari e Ivan Cavassani, que dirigem a Octopus e a Cavassani Publicidade, respectivamente, avaliam que a quarentena no ABC, como em todo o Estado de São Paulo, não teve uma adesão maior por conta da falta de um discurso único entre o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e o governador João Doria (PSDB). Os publicitários consideram que a incerteza gerada na população por conta de discursos políticos divergentes, somada a necessidade de geração de renda, dos que perderam seus empregos, foram os responsáveis pela adesão ao isolamento ter ficado abaixo dos 50%, quando o recomendado inicialmente era de 70%.

“A politização do tema acabou criando uma distância, houve muito mais empenho da iniciativa privada, numa relação de solidariedade com a população, do que do governo federal. Não seria o momento de politizar o tema. Vi uma situação no Rio de Janeiro, uma ação de organização não governamental que fez um protesto pacífico com cruzes fincadas na areia da praia e veio um cidadão e derrubou as cruzes. Uma situação em que se deixa de reverenciar os mortos para partir para o embate político isso não é do Brasil. Acho que tudo está acontecendo para a gente melhorar”, avalia Ivan Cavassani.

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Paulo Cesar Ferrari tem a mesma opinião, de que o discurso divergente prejudica o enfrentamento ao coronavírus. “Estamos em guerra e como eu enfrento o meu inimigo sem uma bandeira única? Não tem cabimento dar uma remada para direita e outra para a esquerda, temos que estar unidos para um direcionamento em relação aos protocolos e isso não aconteceu”, aponta.

Cavassani destacou também que, apesar dos discursos diferentes entre o estado e a União, os prefeitos do ABC se posicionaram bem, buscando passar segurança à população. “Nossos prefeitos trabalharam de maneira positiva, eficiente em testagem e ampliação de leitos de UTI. Não ocorreu o colapso e acho que tudo foi graças aos prefeitos da região e os deputados trazendo benefícios também. A baixa adesão ao isolamento é interferência da falta de comunicação de cima para baixo”, opina.

Os dois publicitários consideram  que a reabertura do comércio de rua e dos shoppings, que ocorrerá na segunda-feira (15) na Grande São Paulo, é precoce. “Eu vou continuar no isolamento e estou me adaptando a esse novo modelo. Tenho certeza que é precoce a reabertura”, diz Paulo Cesar Ferrari, da Octopus. “Acho a retomada perigosa. É o patrocínio do genocídio, espero estar enganado e que não tenhamos que  dar um passo para trás”, opina o diretor da Cavassani Publicidade, Ivan Cavassani.

Mercado

Falando sobre o mercado de publicidade Paulo Cesar Ferrari diz que durante a pandemia, num primeiro momento houve retração, mas no momento o cenário está em transformação, com os clientes seguindo para o caminho da mídia virtual. “No primeiro momento foi o recuo dos anunciantes, o que era normal para saber como iam trilhar seus caminhos, mas que rapidamente voltou quando se percebeu que tudo se transformaria. Veio um novo hábito que vai ficar após a pandemia, basta ver as lives do entretenimento; os artistas se encontram e colocam no ar alguns patrocinadores, grandes players estão patrocinando esse tipo de trabalho. É um modelo que vai se construindo nessa nova modalidade”. Ivan Cavassani também percebeu o mesmo movimento do mercado “Antes, ao mandar mensagem, a gente visava a média de público, aí veio uma revolução muito rápida para ter um relação individual e não de massa, através dos algoritimos e ferramentas adequadas. Estamos numa transição ainda, temos muito a aprender e evoluir. Eu procurei enxergar que ia sair com algum aprendizado e de maneira melhor do que entrei. Tem que usar esse momento como parte do aprendizado”, disse.

O mercado digital é a nova fonte para as agências de publicidade. “O pequeno que tem que migrar para o digital, tivemos um crescimento em investimentos na área digital desde a pandemia o que abre uma oportunidade para irmos buscar isso também”, finaliza Ferrari.

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