Dos empresários que pediram empréstimo através do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) boa parte ainda aguarda o recurso para manter suas empresas abertas. O governo federal não diz quantos pedidos estão em análise, relata que tem se esforçado para atender os empreendedores e que já foram liberados R$ 18,7 bilhões, sendo que 21% desse total só para pequenos e médios negócios no estado de São Paulo.
O empréstimo pelo Pronampe tem 100% de garantia do governo. O prazo para o pagamento do empréstimo será de 36 meses, com carência de oito meses. Já a taxa de juros anual máxima aplicada sobre o valor total do crédito será a da Selic mais 1,25% ao ano. Condições que atraíram o empresário Melchior Neto, proprietário do restaurante Gema, e do botequim Carioca, ambos em Santo André, que ficaram com as portas fechadas durante a pandemia, sendo que o Gema reabriu em julho. O chef Melchior buscou o empréstimo, mas ainda não conseguiu e por isso teme ter que se apertar ainda mais para manter seu negócio.
“Assim que saiu eu pedi, mas não tive nenhum retorno ainda. Eu espero que saia até o final deste mês”, diz esperançoso o chef que precisa do crédito para manter os dois estabelecimentos que têm despesas vencendo. “Todos estão na mesma situação, as reservas acabaram, mesmo com a reabertura parcial não mudou nada e a minha preocupação é que piore a situação visto que o custo aumenta”, disse em relação a retomada do funcionamento do comércio. O empresário também pesquisou outros créditos oferecidos pelos bancos, mas as condições eram impeditivas. “Não existe crédito para comerciante com a porta fechada, a não ser que você dê a sua casa como garantia”.
Para o diretor do Sindicato dos Contabilistas de Santo André, Glauco Pinheiro da Cruz, o gargalo está nas instituições financeiras. “Os bancos estão avaliando a situação de crédito das empresas; o nível de risco. Apesar do governo ser o garantidor do crédito, o banco tem custos com cobrança e a margem que terá com essa carteira é muito pequena, então não mostra muito interesse, prefere vender os seus produtos”, explica. Atualmente três bancos estão credenciados a fazer o empréstimo do Pronampe, a Caixa, o Banco do Brasil e o Itaú.
Cruz também já viu algumas empresas serem encerradas durante a pandemia, mas acredita que esse movimento ainda nem começou. “Fecharam poucas, até porque o empresário resiste, não quer fechar. No nosso escritório até agora o número de empresas encerradas representa 1% do total e essas não eram empresas novas, eram aquelas mais antigas, mas que já vinham de alguns problemas. Agora, com a retomada, que os custos aumentam é que o empresário vai fazer as contas para ver se vale a pena manter aberto”, conclui.
O empresário Paulo Barbosa, que há 22 anos mantém uma loja de roupas femininas no Centro de Santo André é outro que está sofrendo para manter as portas abertas. Depois de três meses com o seu comércio fechado ele reabriu enfrentando muitas dificuldades. Aderiu ao plano do governo municipal durante a pandemia e para isso manteve seus 11 funcionários. Mas após findar o prazo de 90 dias, vai demitir de três a quatro pessoas. Ele pleiteou o Pronampe na Caixa e, apesar de ter toda a documentação em dia, recebeu um “não” como resposta. “Mesmo com a loja aberta das 10h às 16hs não tem venda; os funcionários sabem disso, que uma hora vou ter que cortar. O meu ramo, o do vestuário, não é essencial, e pelas normas sanitárias as pessoas não podem provar, aí fica mais difícil vender. Além disso está todo mundo com medo de perder os empregos e comprar roupa não é prioridade”, comenta.
Barbosa disse que satisfaz todas as condições para fazer jus ao empréstimo do governo, mas os analistas de crédito do banco consideram que ele é um cliente de risco. “Isso porque uso empréstimo baseado no cartão de crédito. Hoje o empresário que diz que tem capital de giro sem empréstimo está mentindo. Ficaram com meus documentos por 15 dias e me deram um não. Nós, pequenos e médios empresários estamos abandonados e se não vier uma ajuda de cima e rápido vamos quebrar”, conclui.
Em nota o Ministério da Economia sustenta que “não tem poupado esforços para que o crédito dos diversos programas emergências possa chegar efetivamente às empresas”. O RD indagou sobre o número de empréstimos concedidos. “Somente pelo Pronampe, linha de crédito especial para ajudar micro e pequenas empresas no valor de R$ 18,7 bilhões com garantias do Tesouro Nacional, já foram assinados mais de 169 mil contratos somando RS 14,87 bilhões em liberações”, informou. Não há dados sobre quantos empresários do ABC foram atendidos. “Não temos dados por município, mas somente no estado de São Paulo foram assinados mais de 43 mil contratos somando R$ 4 bilhões em liberações”, diz a pasta econômica. Informações sobre o Pronampe podem ser obtidas no link: https://www.portaldoempreendedor.gov.br/temas/credito/saiba-mais/pronampe