Internações por queimaduras aumentam 25% durante a pandemia

De acordo com a Sociedade Brasileira de Queimaduras, o número de internações no País por conta deste tipo de acidente aumentou 25% desde o início da pandemia do coronavírus e a maioria das vítimas é criança. O isolamento social, com as pessoas mais tempo em casa, e uso mais frequente de produtos de limpeza e álcool em gel podem explicar a alta. Para o cirurgião-plástico e professor da Faculdade de Medicina do ABC, Sidney Zanasi, os cuidados devem ser redobrados.

“A primeira coisa é não deixar à altura da criança o álcool em gel e produtos de limpeza, porque têm as queimaduras químicas e o risco de ingestão”, destaca Zanasi, em entrevista ao RDTv desta terça-feira (04/8). Mas não são apenas as crianças que devem tomar cuidado, os adultos também. O álcool líquido é outro produto perigoso, que não se deve passar nas mãos antes de chegar perto do fogão, diz. “Se estiver dentro de casa não precisa do álcool em gel, água e sabão já são suficientes para higienizar as mãos. Na rua a gente usa por motivos práticos, porque ele tem função viricida”, aponta o médico.

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Quanto ao aumento de vítimas de queimaduras nos hospitais, Zanasi diz que o fato coincide com a retomada da comercialização do álcool 70%. Foi uma mobilização dos médicos especialistas em queimados que baniu das prateleiras o produto, que passou a ser vendido apenas com 48% de concentração. “Desde 2002 a Sociedade Brasileira de Queimaduras editou essa portaria porque ele estava ligado à maior parte dos acidentes e a queimadura pelo álcool é muito mais grave do que por outros líquidos. Desde o início da pandemia o aumento da comercialização foi de 185%”, relata. Também tem sido muito usado o álcool 70% em aerossol ou spray, que, para o especialista, é ainda mais perigoso.

Mas o que fazer quando o acidente acontece? A primeira coisa é tirar o agente que provocou a queimadura, tirar roupas ou o líquido quente. “Deixar de dois a cinco minutos em água corrente fria, evitar usar gelo que pode até aumentar a lesão. Tirar aliança, pulseira, brinco ou relógio que está próximo da área afetada. Pode também dar um analgésico e enrolar a área em uma toalha úmida para atenuar a dor e depois levar o pronto-socorro”, diz o cirurgião-plástico.

Quando a queimadura é química ou elétrica o procedimento é outro. “Quando os acidentes domésticos por químicos acontecem, deve-se deixar essa região de 20 a 30 minutos para tirar o produto. Cada produto químico tem um agente inativador e no pronto-socorro o médico vai ter de ligar em uma central para saber qual é para aplicar no paciente”, explica.

O atendimento a queimados se divide em duas etapas. O primeiro atendimento, que vai cuidar da lesão até que o paciente se recupere e depois tem o tratamento das sequelas. “O tratamento depende da idade do paciente, da quantidade do corpo queimado e do nível da queimadura, quanto mais profunda, mais sequelas. Além das físicas, as sequelas podem ser psicológicas”, aponta.

Cirurgias estéticas

Zanasi também comentou sobre as cirurgias estéticas e disse que com a pandemia o procedimento praticamente parou, exceto para os casos urgentes. Mas após os primeiros 90 dias as intervenções cirúrgicas voltaram a acontecer com a separação, nos hospitais, dos pacientes confirmados ou suspeitos da covid-19 do restante dos pacientes.

O Brasil é o segundo país do mundo em cirurgias plásticas, atrás apenas dos Estados Unidos. Junho e julho são os mais procurados para a realização das cirurgias, pois os pacientes querem já estar recuperados no verão. “É o período mais procurado por alguns fatores, as férias escolares e o clima. Operar no meio do ano tem uma recuperação melhor, por causa de edemas, até porque na recuperação os pacientes usam cintas com malha elástica e no inverno é mais confortável usar”, detalha. “O pico não veio em junho e julho, mas agora está voltando”, continua.

As cirurgias mais comuns são a de implante mamário, orelha de abano, rinoplastia, toxina botulínica e os preenchimento de sulcos. Com a pandemia e o uso obrigatório de máscara nas ruas aumentou a procura por cirurgias de reparação em outras partes do corpo, como na região do pescoço e no entorno dos olhos, para corrigir olheiras ou bolsas de gordura.

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