A enfrentamento ao racismo nas escolas não existe, pois nunca foi prioridade no Brasil, onde faltam políticas públicas de combate ao problema e a formação de policiais é inadequada. A crítica é de Vânia Viana, cientista do trabalho e pesquisadora convidada pelo Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) para aprofundar o assunto. Vânia fez um paralelo entre as últimas manifestações sobre o racismo, principalmente, a partir do ataque a George Floyd, em Minneapolis, nos Estados Unidos, que resultou em sua morte e inflamou ativistas de diversos países.
Para abordar e discutir a luta contra o racismo no Brasil e Estados Unidos, Vânia contou com uma reflexão da norte-americana Alison Moses, economista social, administradora, consultora e perita em desenvolvimento internacional e comunicação. Também pesquisadora, Alison viveu no Brasil durante 19 anos e também conhece o dia-a-dia a população negra no País, onde diz que os problemas são crônicos, quase os mesmos e têm a ver com a falta de políticas públicas e criação de cultura de igualdade nas escolas.
Nas escolas, segundo as ativistas, a abordagem da temática ainda é falha. “O racismo nunca foi discutido nas escolas de forma prioritária. É preciso trazer muito mais informação. Pra corrigir, precisamos de leis que dialoguem com isso, bem como um plano de ensino que considere as diferenças”, afirma Vânia Viana. A representatividade também é um ponto importante de acordo com Alison Moses. “O racismo faz parte da história, mas ela é contada pelo branco. Na hora de contratar docentes, também precisamos ter representatividade”, completa.
Dentre os inúmeros casos de racismo e violência policial que ocorrem diariamente nos Estados Unidos e no Brasil, a cientista conta, em entrevista ao canal RDtv, que o violência é o principal foco da pesquisa, visto que os acontecidos são ameaças a vidas pretas, e o País vive o racismo estrutural há centenas de anos. “Estamos num momento de dialogar. O que acontece é um ataque a nossa vida, a nossa sobrevivência. Precisamos trazer essa reflexão. A sociedade precisa ter um espaço de diálogo sobre isso”, ressalta.
Alison Moses destaca que o caso de Floyd reviveu a luta. “O episódio do Floyd reacendeu tudo que já havia acontecido no EUA. Há manifestações acontecendo até hoje”, conta. Um passo importante para o movimento, segundo a economista, foi a participação dos brancos nas manifestações e na conscientização sobre o racismo. “Os brancos têm participado muito mais após o caso do George Floyd. Isso cria a consciência da importância de os pretos terem aliados. Tem de haver interesses convergentes”, afirma.
Sobre a atuação das redes sociais neste momento de discussão acerca da luta antirracista, Vânia Viana afirma que é positiva, visto que a exposição desses casos gera maior impacto na sociedade. “As redes sociais têm papel importante na visibilidade desses acontecimentos”, diz. Entretanto, diz, é preciso haver políticas públicas, além de formação adequada de policiais, bem como a mudança de mentalidade da população. “É preciso ter consciência, políticas públicas e políticos que se comprometem com a sociedade, sobretudo, a população negra. Temos direito a nossa vida com autonomia e liberdade”, completa.
Alison Moses, afirma que a exposição dos casos na internet ajudou obter aliados. “O uso da tecnologia alertou a população branca que acompanha o caso de Floyd”, diz. (Colaborou Ingrid Santos)