O RDTv desta quarta-feira (12/08) ouviu a professora doutora da Universidade São Judas e ativista da causa negra e de minorias, Carolina Galdino, e o especialista de Gestão de Pessoas e analista de recursos humanos da Volkswagen, Carlos Dias, que falaram sobre preconceito e inclusão de negros, público diverso e portadores de deficiência no ambiente corporativo. O combate ao racismo e homofobia, segundo os especialistas deve começar na família e na educação, mas passa também pela conscientização no meio empresarial.
“É difícil encontrar pessoas negras em ambientes corporativos de grandes empresas. Encontrar profissionais negros da minha geração em cargos corporativos e de liderança é um desafio ainda hoje. É fácil pensar que para ser contratado precisa estudar, se capacitar e ser um profissional mais completo para entrar em uma organização grande, mas será que a sociedade nos dá oportunidade de competir de igual para igual? As empresas têm que dar espaço. Não precisa ter um programa específico para ter minorias no quadro, tem hoje universidades com grupos de transexuais, negros ou de PCDs. Porque as empresas não podem divulgar as vagas nesses grupos? Antes de ter um grande programa, existem iniciativas pequenas para que minorias fiquem em pé de igualdade com outros candidatos”, analisa o gestor de RH.
Para Carlos Dias um primeiro passo é preparar líderes para que entendam o contexto social e para que possam tomar a atitude de contratar pessoas diversas para suas equipes. “Estudos recentes mostram que empresas com funcionários diversos têm maior lucro. Só que falta um pouco do pulso das empresas em fazer isso, porque o público consumidor é diverso também”, analisa.
Para a professora da Universidade São Judas, Carolina Galdino, o país ainda está num momento inicial de inserção das minorias nas organizações. “Importante entender que as questões étnico-raciais não devem ser tratadas de formas episódicas. Tivemos o caso do George Floyd, mas ainda é pouco, temos que seguir um longo caminho para promover a inserção direta. Vivemos numa sociedade diversa, mas pouco inclusiva”, analisa. A professora quantificou a pouca inclusão de negros; 56,10% da população brasileira é negra, porém menos de 6% dos cargos executivos e de gerência são ocupados por afrodescendentes.
Carolina concorda com o gestor de RH, Carlos Dias, quanto ao enriquecimento que a diversidade pode trazer ao ambiente corporativo. “Porque quando mais inclusivo maior a oportunidade de trocas de conhecimentos e inovação. Além da questão tecnológica, inovar é dar oportunidades para que as minorias atuem e tragam soluções que não tinham sido pensadas, uma visão de mundo diferente”, salienta.
A professora ilustra com seu próprio exemplo a dificuldade para o negro galgar degraus na educação e no trabalho. “Para mim foi muito difícil; faço parte da primeira turma cotista do Pró-Uni. Eu tinha um projeto de vida para a área de educação para lidar com a temática da diversidade e minorias. O negro precisa ser 10 para ser reconhecido. Inclusão não é um favor, é um dever da sociedade. Um mundo mais inclusivo e uma sociedade que tenha consciência quanto a inclusão consegue progredir de forma mais assertiva”, destacou.
Carlos Dias chamou a atenção para a estrutura da empresa para atender ao público diverso como homens e mulheres trans. “As empresas hoje têm acessibilidade para deficientes físicos, mas será que a empresa tem a acessibilidade social? De que forma vai tratar um homem ou uma mulher trans? Como a empresa se prepara? Qual o banheiro aquela pessoa que vai utilizar e como as pessoas vão lidar com isso? Quais ações vamos tomar para que isso aconteça com naturalidade?”, questiona o especialista em RH. “Isso tem que ser um tema estratégico para a empresa. Geralmente é o RH que capitaneia isso nas empresas, o tema tem que fazer parte do plano estratégico da empresa. Existem consultorias especializados para minorias e PCDs”, orienta.
Para Carolina Galdino, além de ser uma política da empresa, os funcionários que já estão na companhia devem ser preparados também. “Importante fazer com que os colaboradores estejam afeitos a essa temática importante para combater o racismo e a homofobia”, aponta. Segundo ela o ambiente de trabalho deve garantir a sociabilidade. “Não adianta incluir e ele não ter condições de permanência, para o convívio”.
A professora da São Judas conta que entre as décadas de 60 e 70 nos Estados Unidos as lutas levaram ao surgimento de uma classe média negra com potencial mercadológico e político. “Isso foi fruto de ações afirmativas. O debate sobre diversidade e relações étnico-sociais não é um favor. É necessário trazer a sociedade como um todo para o debate. Não é necessário ser negro para lutar contra o racismo”, conclui a professora.
“Faço um apelo aos gestores de empresas para que pensem e repensem sobre o que podem fazer sobre como a sua empresa e o setor podem ser mais inclusivos”, arremata o gestor de RH, Carlos Dias.