Em meio a um contexto de reforço nas pesquisas para o combate à pandemia da covid-19 e seus efeitos e também num momento em que o governo federal anuncia corte de 18% no orçamento das universidades federais para 2021, representando redução de R$ 4,2 bilhões, a UFABC (Universidade Federal do ABC) vai realizar o seu segundo congresso, que terá a participação de professores e da comunidade acadêmica em atuação no país e fora dele. O congresso tem início na segunda-feira (18/08) e vai até 17 de setembro de forma online a com participação aberta a qualquer interessado bastando inscrição prévia. Cinquenta palestrantes já confirmaram participação, entre eles o ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, que participará de uma mesa que vai tratar da prevenção enquanto a vacina contra a covid-19 não chega.
Segundo o reitor da UFABC Dácio Matheus, a universidade pública é responsável por 95% da pesquisa produzida no país. Só na federal do ABC são 60 projetos aprovados e em andamento que, ou já se relacionavam diretamente com a covid-19 ou que se adaptaram para a busca de soluções de combate à pandemia. “Já no primeiro congresso o foco foi o impacto da universidade pública no desenvolvimento do ABC. Este ano a pandemia é um fato que nos atinge a todos e novamente a universidade quer colocar o seu espaço de debate, de escuta e de aprendizado a disposição e dividir isso com a sociedade. Todos os 60 projetos estão acontecendo; alguns presenciais, em laboratórios com protocolos, alguns remotamente e outros desaceleram na medida em que as atividades presenciais estão impossibilitadas”, relatou.
Dentre os projetos de pesquisa está um tecido auto desinfetante com nano partículas que em contato com a luz geram substância desinfetante, outra é o monitoramento epidemiológico através do esgoto, tem ainda um que estuda o impacto das aulas remotas na qualidade do ensino público, entre outras pesquisas. Outra contribuição da universidade para a sociedade durante a pandemia é a produção de álcool 70% nos laboratórios dos campi de Santo André e São Bernardo. Com capacidade produtiva de 200 litros por mês, a UFABC já entregou 1,7 mil litros do produto, a maior parte para o Hospital de Campanha que funciona no campus andreense. A universidade também já produziu mais de mil escudos faciais, um Equipamento de Proteção Individual que deve ser utilizado pelos professores com a volta do ensino presencial que só deve ocorrer em 2021.
Os conselhos superiores da universidade definiram que esse quadrimestre, que tem início em setembro, ainda não será presencial. “Avaliamos que os dados não nos permitem a retomada das atividades presenciais, pois somos mais de 15 mil pessoas nos dois campi, portanto este último quadrimestre será totalmente de atividades remotas. Tomamos todas as providências necessárias, para melhorar o ensino remoto, o que já foi usado no quadrimestre anterior. Nem todas as disciplinas podemos dar no remoto sobretudo as que precisam de práticas. Também tomamos providências para dar acesso a pacote de dados para os alunos em condição de vulnerabilidade social”, enfatizou Matheus. “O MEC (Ministério da Educação e Cultura) e a Rede Nacional de Pesquisa negociam diretamente com todas as operadoras, devemos ter já na segunda-feira (18/08) algo sendo disponibilizando para as universidades”, completa o reitor.
Cortes
Sobre o corte de R$ 4,2 bilhões da universidade pública no orçamento da União para 2021, o reitor da UFABC, Dácio Matheus, considerou a medida extremamente danosa não apenas para a educação, mas para a pesquisa em todo o país. “Isso é triste e extremamente preocupante. Essa situação está exigindo uma articulação muito grande com o governo e o congresso para sensibilização. A luta é para, pelo menos, manter o orçamento de 2020”, disse o reitor.
Esses R$ 4,2 bi representam um corte linear de 18% no orçamento de todas as universidades públicas do país. “Já estamos administrando um orçamento muito restrito; há 4 anos que não temos nenhum reajuste. O conjunto de reitores e reitoras das universidades federais lutam para que esse projeto de lei não vá com o esse corte que está sendo anunciado, diante de todos os serviços que as universidades federais prestam”.
O corte pode atingir os estudantes que tem renda familiar menor que um salário mínimo e meio e precisam da ajuda do programa nacional de assistência estudantil, segundo prevê Dácio Matheus. “Deve prejudicar também o custeio, a manutenção e todos os contratos que temos”, lamenta o reitor.