O RDTv desta segunda-feira (28/09), primeiro dia útil de campanha política nas ruas e nas mídias sociais, trouxe três especialistas em eleições, o consultor de marketing político, Marco Iten; o sociólogo e pesquisador do instituto ABC Dados, Marcos Soares, e o cientista político, Nilton Tristão. Os três concordam que nesta campanha política, nem o popular santinho será bem recebido pelo eleitor que, em compensação, já começou as ser bombardeado pela propaganda política digital.
Para os especialistas a população vai evitar o contato físico com os candidatos e cabos eleitorais. “Quando essa abordagem começar a ir de casa em casa vamos sentir uma retração muito grande das pessoas, que estão resistindo a pegar papelzinho. Estou sentindo que o eleitor está esperando o que vai ver nas redes sociais. Os carros adesivados serão mais importantes. Outro fator é a resistência às práticas antigas das eleições anteriores, essa distribuição de papel não vai acontecer como não vai acontecer comício. O que vale são os nichos eleitorais, a linguagem de comunicação, isso forma opinião, dá uma linguagem de campanha, as ferramentas são mais diretas, mais impactantes, como as redes sociais e o relacionamento com o seu eleitor. Fora isso as campanhas tradicionais estão efetivamente colocadas numa vala comum da rejeição”, analisa Marco Iten.
Para Marcos Soares a pandemia vai afetar a propaganda política e também a presença do eleitor nas urnas. “Peso do virtual será ainda maior do que foi nas duas últimas eleições. O diferencial é o receio de que a pandemia possa fazer com que o comparecimento nos locais de eleição seja menor do que se imaginava. Pesquisa Datafolha mostrou que 34% não se sentem nada seguros para votar no dia 15. Esse dado traz impactos que a gente precisa prestar atenção. A campanha vai acontecer com peso grande do virtual, mas mesmo assim vai acontecer na rua, porém os candidatos devem fazer isso nas últimas semanas, até porque há dificuldade do ponto de vista financeiro das campanhas”, analisa.
Para o cientista político Nilton Tristão, a pandemia foi o gatilho que acelerou o processo de campanha pelas redes sociais. “Já vinha crescendo há algum tempo, mas a pandemia acelerou. A campanha tradicional não vai acabar completamente, vai ter jornal e militância na rua, mas menos. Os debates devem acontecer nas redes sociais com fortalecimento das narrativas. As redes sociais propiciam a construção de uma ideia com começo meio e fim”, analisa.
Os especialistas também comentaram sobre a influência externa nas eleições municipais, como a direita, representada pelo presidente Jair Bolsonaro, e a esquerda, representada pelo ex-presidente Lula. “O fenômeno do Bolsonaro vem agora para a eleição municipal. Partidos de direita virão com muito mais força do que nas passadas; teremos mais candidatos que vestem a roupa dessa direita. Temos o interesse dos partidos em ter a representação nos municípios já pensando nas eleições de 22. Já vemos os deputados gravando com candidatos a vereador e prefeito, mostrando seu trabalho e suas emendas. Essa busca já começou com o sentido de colocar um dedinho em cada região do estado. Nenhuma eleição que vivemos até agora teve essa influência externa”, analisa o especialista em marketing político.
Já Marcos Soares minimiza a influência externa na eleição municipal, admite que ela vai existir, mas não será decisiva para a escolha de prefeitos, mas para a eleição de vereadores. “Influência a ponto de eleger candidato a prefeito não vejo. Nas eleições municipais a temática local tende a prevalecer sobre a temática nacional. Bolsonaro, ainda que muito presente, não me parece que seja suficiente para eleger um bolsonarista. A variável chave será a avaliação do governo local, mas muitos candidatos a vereador devem ser eleitos sob essa bandeira”, interpreta.
Segundo Marco Item, o trabalho está intenso no seu escritório, cuidando das mídias sociais de vários candidatos. “O mais interessante é que havia uma grande audiência esperando. Ou todo mundo está com insônia coletiva ou há um interesse”, comentou. Mas segundo o marqueteiro, não há fórmula milagrosa para fazer um candidato eficiente nas redes sociais da noite para o dia. “A estratégia está muito relacionada no envolvimento natural do candidato nas redes sociais. Não é possível, há 58 dias das eleições, falar em rede social, ele tem que ter uma vivência e já conhecido a longo ou médio prazo . A campanha vitoriosa é o bom relacionamento, isso torna o eleitor íntimo e torna os candidatos aceitáveis. Isso também vale para a campanha física, se é um ilustre desconhecido não é com santinho, bom vídeo ou bom post em rede social que vai ficar conhecido”, elenca.
Sobre a participação das mulheres e negros na política, os especialistas ouvidos pelo RDTv consideram que os grupos ainda dependem de mais organização, hoje o tema é mais uma estratégia de campanha do que reflexo da participação efetiva. “Estamos vendo a sociedade se organizando e as pautas da mulher e do racismo vêm se colocando mais fortemente na sociedade e o mundo político também observa. Isso está no radar dos partidos mas eles não têm muita preocupação com a sociedade, mas escutam um pouco do que ela vem gritando. Enxergam esse público como oportunidade de mercado. Movimentos negros temos muitos, mas com baixíssima representatividade política. Mulheres tem muitas falando de empoderamento, mas poucas se apresentam. Na eleição o candidato abre a janela põe o braço para fora e tenta pegar uma bandeira”, analisa Marco Iten. “Temos o PMB (Partido da Mulher Brasileira) que é dirigido por homens. Partidos enxergam esses públicos como oportunidade no mercado eleitoral”, completa o raciocínio Marcos Soares.