A opinião de pais e responsáveis sobre o retorno ou não às aulas presenciais, ainda está muito dividida, mas até os que eram contra o retorno, admitiram as dificuldades e os problemas de ter as crianças fora do convívio social por praticamente um ano. Para a pediatra Adriana Krakauer, os males causados pelo longo período em isolamento são mais sérios do que os riscos de mandar a criança para a escola. Segundo a especialista danos físicos e psicológicos se acumularam ao longo da pandemia e podem não ser recuperados.
O dano é maior quando a criança não tem um espaço para correr e brincar, o que pode prejudicá-la fisicamente e ocasionar até perda de massa muscular e óssea. “Impacto da pandemia e do isolamento não é tão relacionado à doença, mas sim pelas consequências de isolamento e parada das atividades de lazer e de ensino durante a pandemia. Do ponto de vista motor pode vir a fraqueza e a perda de massa muscular. Do ponto de vista psicológico a gama não tem fim”, comenta Adriana.
A pediatra diz que a cognição da criança ficou prejudicada com as aulas on-line. “O aprendizado não é apenas com o professor, é colateral, então no ensino à distância houve um prejuízo. Os pais que acompanham a criança na atividade online não estão exatamente prontos para ensinar. O prejuízo na evolução da escolaridade impactou todas as faixas etárias”.
A mudança da alimentação na pandemia pode gerar também crianças com problemas de saúde relacionados ao sobrepeso. “Com todo mundo confinado, com pouca chance de lazer, usou-se a alimentação como forma de lazer e prazer em família. Aí tem os que aproveitaram para fazer uma alimentação saudável e os que foram para o lado das guloseimas, com isso temos os distúrbios metabólicos e de peso”, diz Adriana Krakauer.
A pediatra também apontou o aumento da violência doméstica, o aumento dos acidentes domésticos e a situação dos pais colocarem a criança com cuidadores não habilitados ou creches clandestinas para poderem trabalhar. “Esses três itens fizeram com que a Sociedade Brasileira de Pediatria apresentasse documentação sobre o quanto seria interessante mandar a criança para a escola”.
Mas o que os pais devem observar e o que fazer para minimizar os problemas com as crianças? Segundo Adriana Krakauer é possível manter algumas atividades e fisicamente a recuperação é bem rápida. “É possível caminhar na calçada ou ir a um parque. Em casa a fórmula é re-projetar a casa para ter um layout seguro para as crianças brincarem de pular corda, com brinquedos de montar, bambolê ou outra atividade. Sair para tomar sol, caminhar numa distância um pouco maior fora de casa, também é importante”, orienta. Nas aulas online as crianças e os adolescentes acabaram se prostrando na cama, assistem aulas deitados. Incentivar a sair, caminhar ou andar de bicicleta é a saída, não mais do que isso. O adulto jovem e criança rapidamente se recuperam, não precisa de um tratamento especial, para voltar ao ponto pré-pandemia. O ideal é caminhar, no mínimo, uma hora por dia para manter o funcionamento e o metabolismo, mas tem que ser todo o dia”, aponta.
Por conta das medidas sanitárias e o preparo das escolas, a pediatra considera até mais positivo mandar a criança para a escola do que mantê-la em casa. “A criança na escola talvez esteja mais segura do que em casa saindo com acompanhante para ir no supermercado ou ao shopping. Já arrecadamos tantas sequelas em um ano e estamos projetando, no ritmo de vacinação do país, que a pandemia ainda vai até o fim do ano, por isso quem pode mandar, que mande sim”, finaliza a especialista.