ABC - sábado , 18 de maio de 2024

Plano de vacinação da covid-19 ignora população em situação de rua no ABC

De toda região, somente São Caetano iniciou imunização da população em situação de rua (Foto: Banco de Dados)

A vacinação contra o novo coronavírus começou no ABC dia 19 de janeiro e já soma mais de 127 mil imunizados com a primeira dose. Porém, menos de 5% da população em situação de rua recebeu a imunização contra a doença.  De acordo com as prefeituras, mesmo com a situação de vulnerabilidade, é necessário seguir o Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde e aguardar novas doses da vacina e as demais faixas etárias para aplicação.

De toda a região, somente São Caetano iniciou as aplicações para este público. Do total de 68 moradores em situação de rua cadastrados no sistema municipal, cerca de 50 pessoas no Lar Bom Repouso já receberam a primeira e segunda dose da vacina. Na cidade, desde o ano passado também são entregues equipamentos de segurança individual (EPI’s), em formato de kits higiene e, ao longo das abordagens, são entregues sabonetes e máscaras aos que solicitam.

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Falha do poder público

A recusa, no entanto, é frequente, uma vez que boa parte dos moradores em situação de rua são resistentes ao uso dos EPI’s. “Muitos não usam (máscara) porque muitas vezes não recebem a instrução certa de como utilizar ou até da necessidade da mesma. Outros precisam apenas de um trabalho reforçado de esclarecimento, o que muitas vezes falta por parte do poder público”, defende o ativista e estudante de Ciências Sociais, Thiago Fonseca, que trabalha com a população de rua do ABC e Capital há pouco mais de dois anos.

Em São Bernardo, há 380 moradores de rua acompanhados pelo programa Consultório de Rua, da Secretaria de Saúde. Deste público, todos foram testados contra a covid-19, até albergados, mas nenhum recebeu doses da vacina, justificado pelo seguimento do Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, com vacinação por faixa etária.

Segundo a Prefeitura, já foi concluída a imunização de indígenas e a aplicação da primeira dose em profissionais da Saúde. Agora se faz necessário esperar que a população em situação de rua receba a aplicação. “Os moradores de rua se tornam ‘indigentes’ perante a uma situação de calamidade. Na sequência do Plano São Paulo, onde eles entram? Serão os últimos, apesar da necessidade e exposição recorrente”, defende Fonseca.

Diante da pandemia, a administração destaca que abriu espaço para higienização dos moradores no prédio do Centro Pop, descentralização de vagas de acolhimento, a fim de garantir o distanciamento físico, bem como fornecimento de EPI’s aos trabalhadores e máscaras e álcool em gel aos usuários.

Levantamento

Ribeirão Pires possui 51 moradores em situação de rua entre os que já estão em atendimento e os crônicos que não aceitam acolhimento. Também não iniciou aplicação de doses da vacina por conta da idade. “Estamos fazendo um levantamento para vacinar os grupos conforme a idade e perfil na escala de vacinação”, informa a Prefeitura.

Neste período, a população recebe cestas básicas do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), algumas destinadas à Casa de Acolhida, com álcool em gel e máscaras descartáveis. “Dentro da instituição aferimos a temperatura para controle, tanto dos conviventes, quanto dos funcionários”, esclarece a administração.

Falta inclusão

Cerca de 300 pessoas em situação de rua também aguardam a aplicação da vacina em Santo André, onde o público ainda não foi incluído. A cidade aderiu ao Programa Estadual “Bom Prato”, que oferece gratuidade de refeições durante a pandemia para atender este público. Houve também reforço na distribuição de insumos de segurança como máscaras e álcool em gel.

No Estádio Bruno Daniel, foi montado um acolhimento emergencial ao qual as pessoas em situação de vulnerabilidade e que fazem parte do grupo de risco podem receber até três refeições diárias, tomar banho, dormir, fazer atendimento psicossocial e atividades com educadores. O local tem capacidade para 50 pessoas e no momento está com 45 assistidos.

Diadema, Mauá e Rio Grande da Serra não retornaram os questionamentos até o fechamento da reportagem.

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