O Abrigo São Caetano, situado no bairro Santa Maria, atende 23 moradores em situação de rua com serviço de acolhimento monitorado pela Vigilância Sanitária, seguindo orientações ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos). O objetivo é inibir a propagação do novo coronavírus e assim prestar assistência básica para os que mais necessitam. Acontece que, quem é acolhido pelo serviço, conta que falta assistência básica para que os indivíduos alcancem seus objetivos e assim liberem novas vagas.
É o caso de Marcel Cirilo dos Santos, de 40 anos, que apesar de estar no abrigo municipal há pouco menos de dois meses, diz não conseguir liberação para encontrar oportunidade de trabalho no município. “Não conseguimos sair do abrigo sem correr riscos de perder a vaga por aqui”, conta. “Temos um ótimo atendimento e coordenadoria, mas precisamos de oportunidade para conseguir melhorar nossa vida e não ficarmos presos aqui”, reclama.
Santos, que entrou no abrigo no último dia 24 de janeiro, conta que a situação se repete com seus colegas que convivem no mesmo espaço. “Tem pessoas que já tem oito meses que vivem nas mesmas condições que eu e só querem o direito de sair para buscar uma oportunidade de emprego”, enfatiza. O reclamante lembra, ainda, que até mesmo saídas simples para o supermercado se tornam difíceis. “Nem para comprar itens de higiene pessoal conseguimos sair. Enfrentamos uma dificuldade tremenda”, conta.
O abrigado Francisco Vicente de Macena, de 51 anos, também enfrenta dificuldades semelhantes. “Sair para buscar trabalho é sem chance, não liberam de forma alguma mesmo que seja para melhorar a vida”, diz. Há cinco meses no abrigo municipal, conta que não conseguiu sair nem mesmo para cuidar de seu pai acamado. “Meu pai não anda e precisou fazer cirurgia na vesícula. Ainda assim, nessa situação de emergência, não liberaram minha saída”, relata.
Abrigado há três meses, Wilian de Souza, de 35 anos, foi impedido de ver a filha. “Dizem que por conta da pandemia, não podemos sair do abrigo. Agora estou sem ver a minha filha e os demais abrigados nem sequer podem sair para fazer entrevistas de emprego para tentar melhorar a vida”, conta. Com a filha do lado de fora, Souza diz que pensa em abandonar o projeto. “Estamos de mãos atadas […] penso em abandonar o projeto, porque pensa como fica a cabeça de um pai, estando aqui dentro, sem poder sair e sabendo que a filha está lá fora, precisando de mim”, diz.
Em nota, a Prefeitura de São Caetano informa que todos os usuários assinam termo de ciência ao adentrarem para o acolhimento e que, por tratar-se de um serviço emergencial, o objetivo é possibilitar aos acolhidos a chance de realizar o isolamento social e, consequentemente, se protegerem do contágio da Covid-19.
“Não há restrição para saídas com objetivos concretos. Tanto que a equipe técnica do serviço vem traçando estratégias para que os acolhidos possam buscar trabalho, realizando, inclusive, processos seletivos e entrevistas online. Já houve casos de acolhidos que conseguiram emprego, alugaram local para morar e deixaram a casa”, diz em nota.
A administração municipal informa, ainda, que as medidas de higiene e segurança impostas pelo serviço e monitoradas pelo comitê de vigilância vêm surtindo efeitos, visto que, até o momento, não há nenhum registro de usuário contaminado pela Covid-19 durante a permanência na casa.