Ensino remoto no ABC esbarra na falta de equipamentos e suporte de professores 

Sem assistência e equipamentos, professores sofrem para se adaptar ao digital (Foto: Banco de Dados)

Com as aulas suspensas por tempo indeterminado devido ao agravamento da pandemia do novo coronavírus (covid-19), o ano letivo segue com o ensino à distância e aulas remotas. A medida, porém, esbarra em uma realidade que tem prejudicado estudantes e professores: a falta de equipamentos para acesso à internet e a falta de preparo dos professores para lidar com plataformas virtuais e mudanças no modo de educar.

Uma professora da rede municipal de Mauá, que preferiu não ser identificada, diz que por conta do isolamento social, precisou adaptar sua rotina e dividir seu único computador com a família de três integrantes. “Aqui em casa somos eu, meu marido e meu filho e todos estão em home office. Acontece que em muitos casos, tenho que preparar aulas de madrugada, fora do meu horário de trabalho, porque a Prefeitura não fornece computador e temos que nos dividir para que todo mundo consiga usar”, diz.

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Segundo ela, no segundo semestre do ano passado, o único equipamento da família quebrou, e foi necessário tirar dinheiro do próprio bolso para consertar. “Acho que tanto usarmos, ele deu algum problema, então precisei arrumar e com isso gastei mais de R$ 600. Isso a Prefeitura não cobre, assim como os gastos com energia elétrica e internet são deixados de lado”, enfatiza.

Para a professora da rede estadual de Mauá, Liana Aparecida da Silva, os problemas estruturais afetam, inclusive, os alunos. “Apesar de tudo que vem sendo feito para que o ano letivo seja aproveitado, há problemas estruturais graves. A escola em que trabalho fica em uma comunidade carente, então muitas famílias são desestruturadas e não tem equipamento para as aulas, o que pode ocasionar defasagem no ensino”, diz. A professora acredita, ainda, que a pandemia tem sido um grande desafio pessoal, uma vez que ela estava acostumada a aplicar as aulas sem o uso constante da tecnologia. “Isso também testou a vontade dos alunos de continuar estudando”, enfatiza.

Rede particular

Professora nas redes particular e pública de Santo André, Sandra Perez defende que a aplicação das aulas muda, de acordo com as escolas. “A Senador João Galeão Carvalhal (escola estadual), não teve nenhuma aula presencial, diferente do Colégio Singular (particular), que teve duas semanas de aula semipresencial com poucos alunos em sala”, explica.

A também professora do Colégio Singular, Luciana Mollo, conta que a escola esteve no modo híbrido por duas semanas, e agora, com a implantação da Fase Vermelha do Plano São Paulo, a instituição retomou o ensino remoto. “Frequentei o colégio por três semanas. Uma foi para adaptação com equipamentos, enquanto nas outras duas tivemos aula com 30% dos alunos”, conta. Para isso, foram fornecidos equipamentos, inclusive de segurança. “Deram três máscaras, um microfone lapela de uso pessoal e, na sala de aula, garrafa de álcool em gel, câmera e computador”, explica.

Prefeituras não atendem professores

Em nota, as prefeituras da região informam que os educadores das redes municipais recebem treinamento periódico quanto ao uso das ferramentas digitais, tendo em vista que as aulas já integravam o cotidiano dos professores e alunos antes mesmo da suspensão das aulas presenciais. No entanto, em nenhuma cidade há fornecimento de equipamentos como tablets e computadores aos profissionais da Educação, com exceção de Santo André, que fez a entrega de chip de celular aos professores.

As secretarias de Educação disponibilizam, também, laboratórios de informática nas unidades escolares para que os servidores possam ter acesso às ferramentas e internet. No entanto, para o Sindserv Santo André (Sindicato dos Servidores de Santo André), a medida é incoerente. “Desde o início da pandemia falamos no respeito e direito à vida, tanto para as crianças como para os profissionais da Educação. Não podemos incitar aglomerações, ainda que sejam elas nos laboratórios das escolas”, diz o diretor, Rodrigo Gomes.

Para o representante da categoria, falta apoio do poder público no período de aulas remotas para todos os profissionais da Educação. “Além de utilizar o seu próprio equipamento, o professor sofre sem qualquer tipo não tem qualquer tipo de formação extensiva. Não tem acolhimento, uma equipe que o auxilie para uma formação continuada. Isso falta, e de modo imediato”, enfatiza.

Na visão de Gomes, as escolas precisam também focar no acolhimento não só dos alunos, mas também dos professores, que sofrem sem assistência psicológica. “A partir da implementação do ensino remoto e do uso do celular, os professores passaram a não ter hora para trabalhar. Em muitos casos, fazem jornada dupla ou até tripla. Falta um acolhimento e uma assistência permanente para a categoria”, defende.

Apesar das demandas e dificuldades, Rodrigo defende que a volta às aulas em formato presencial aconteça somente após todos os profissionais da Educação receberem a vacina contra a covid-19. “Não defendemos a volta sem a imunização para todos os profissionais da Educação. A saúde e o direito à vida vem em primeiro lugar”, diz. (Colaborou Beatriz Gomes)

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