O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, anunciou que as metalúrgicas da região demonstraram interesse em comprar vacinas através do Consórcio Intermunicipal. Para seguir a legislação sobre o assunto, as indústrias têm que fazer a compra através de um ente público, no caso o colegiado de prefeitos. Segundo estimativa do sindicalista há pelo menos 35 mil metalúrgicos na região e, como as empresas têm que comprar o dobro de vacinas e doar metade para o SUS (Sistema Único de Saúde) a iniciativa deve proporcionar mais 70 mil doses que devem ficar na região.
“Estamos em negociação com o Sinfavea (Sindicato Nacional da Indústria de Tratores, Caminhões, Automóveis e Veículos Similares) e o Sindpeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) e eles já concordaram em comprar. Eu também já conversei com o Paulo Serra (prefeito de Santo André e presidente do Consórcio intermunicipal) que está trabalhando nisso”, disse Wagnão em entrevista ao RDTv desta sexta-feira (26/03).
O líder sindical também falou sobre o trabalho do sindicato para convencer as montadoras a parar suas atividades e contribuir com o isolamento social. A negociação começou ainda antes da decisão do governo estadual de antecipar feriados entre os dias 29/03 e 04/04. “Um estudo sobre a quantidade de mortes por 100 mil habitantes feito nas 34 cidades da região metropolitana, mostra que quatro as quatro maiores cidades da região estão entre as dez com maior número de óbitos. Em primeiro lugar vem São Caetano com 302 mortos por cem mil habitantes; Santo André é a 3ª colocada com 228; São Bernardo vem em 5°, com 211 mortes por cem mil, e Mauá a 6ª, com 188. Ainda temos Diadema em 15° com 148, Ribeirão Pires é a 23ª e Rio Grande a 36ª. Isso prova a necessidade da gente promover o afastamento das pessoas. Eu acredito que o anúncio feito pela Volkswagen na semana passada e o nosso empenho em debater o lockdown suscitou o debate sobre a antecipação dos feriados”, disse Wagnão.
Diante de críticas do comércio e dos setores produtivos sobre os feriados antecipados, Wagnão minimiza problemas com as montadoras, que segundo ele, têm mantido diálogo com a categoria. “Não acredito que a pandemia seja usada para justificar desligamentos”, analisa. Segundo o sindicalista a o combate à pandemia e a recuperação da economia têm que ser encarados. “Temos que nos ajustar combatendo o mais rápido possível. Os países em que as coisas estão dando certo é porque juntaram as duas coisas, o Brasil infelizmente não, estamos assistindo um agravamento monstruoso da pandemia. Defendemos garantia do emprego e renda, como o auxílio emergencial para que o trabalhador consiga ficar em casa, mas R$ 150 não vão incentivar ninguém a ficar em casa. No Brasil todas as pautas que pensam no futuro estão paralisadas, não só por conta da pandemia, discutir o futuro parece que virou uma praga tão grande quanto o coronavírus, falta política industrial e temos proposta para isso. Não existe política para o comércio e, ao contrário, há destruição do trabalho formal como a gente conhece. Manter renda é importante para que o pais tenha capacidade para sair da crise, a solução não é precarizar mais, nem vender estatais e empobrecer o país”.
Casos
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC já contabiliza cerca de 4 mil trabalhadores das montadoras infectadas pelo novo coronavírus, em um universo de aproximadamente 23 mil trabalhadores. “Não é porque as pessoas se contaminam mais na montadora, é porque tem um programa de testagem em massa. Temos empresas com 18% de funcionários que pegaram, outras com 12%. São números três vezes maiores a média nacional, não é porque contamina mais, mas porque testa mais. Já temos 10 óbitos de pessoas na ativa”, lamenta o presidente do sindicato.
Data-base
A pandemia também deve afetar a data-base dos trabalhadores metalúrgicos, que têm negociação em setembro, isso porque em período de redução da atividade econômica e de maiores necessidades para a classe trabalhadora as cláusulas sociais ganham maior destaque. “Vamos realizá-la numa situação de crise de novo, de pandemia não resolvida ainda. Estamos esperando para ver os efeitos da letargia no combate a pandemia na economia e nas negociações da data-base. Ano passado conseguimos bons acordos repondo a inflação e a renovação de cláusulas sociais. E num momento de crise econômica e crise sanitária preservar vida e garantir a qualidade do emprego muitas vezes são muito mais importantes do que o índice econômico”, concluiu.