Em meio a pandemia da covid-19 em que a higiene é fator primordial para a saúde e qualidade de vida da população, os moradores de Mauá sofrem na dependência da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), responsável pela distribuição de água no município. Isso porque a falta de água se tornou um problema histórico em alguns endereços, a exemplo do bairro Zaíra, em que algumas casas chegaram a ficar quase dez dias sem água.
Martins Pereira Rosa, morador do nº86, da Viela 70 da rua Manoel Nascimento, conta que desde o último dia 18, quando o RD fez a primeira reportagem sobre falta de água no bairro, a rua foi abastecida somente três vezes, via caminhão-pipa, sendo a última delas nesta segunda-feira (05/04). “Vieram hoje abastecer as caixas por conta da reportagem, mas ficamos oito dias sem água nas caixas”, conta o morador indignado com a situação.
Segundo ele, ainda assim, a água não é suficiente, uma vez que somente um caminhão abastece a região. “Conseguimos manter a casa por, no máximo, dois dias. Isso se economizarmos muito”, conta. “Além disso, para conseguirmos abastecer, precisamos colocar a mangueira do caminhão dentro da nossa caixa d’água. Se estivermos trabalhando, como ficamos? sem água?”, questiona. “Não podemos ficar nessa situação, já regularizamos o serviço, pagamos conta e ainda assim não temos um serviço decente”, enfatiza o reclamante.
Quem também regularizou a situação da rede de água na sua casa foi Jéssica Pereira de Souza, também moradora da Viela 70, e apesar disso, continua sem água na torneira. “Tenho uma caixa de 500 litros, mas mesmo assim é insuficiente pra manter a casa. Em nenhuma das vezes que a água chegou deu para encher a caixa por completo, ao contrário, não deu nem dois palmos de água”, conta. Segundo ela, o abastecimento feito pela Sabesp não tem pressão suficiente para subir para as caixas, o que faz com que as pessoas dependam de baldes.
O promotor de loja, Josimar Ramiro Ribeiro, enfrenta os mesmos desafios, apesar de na sua casa possuir uma caixa de água com capacidade de armazenar mil litros de água. “O que chega não dá pra quase nada, não chega nem a três dias”, conta. Nas datas comemorativas, a situação é ainda pior. “Nas datas de festa a situação piora, aí que ficamos sem nada mesmo. Isso porque tenho a situação regularizada desde que me mudei pra cá, em 2010”, reclama.
Josimar conta, ainda, que trabalha no período da noite, horário em que a água costuma chegar – quando o abastecimento acontece – e assim, mal consegue aproveitar o pouco de água que tem. “Minha situação é ainda pior, porque quando chego durante o dia, não consigo tomar banho, porque já não tem mais água na caixa”, conta.
Já Janielly da Conceição Silva, moradora do nº 87 da Viela 70, conta que por diversas vezes acionou a Sabesp, todas sem solução. “Sempre que ligo na Sabesp deixam a gente na linha, sem resposta. A situação aqui está cada vez pior e nada resolve”, diz. Em uma das vezes que conseguiu contato com a companhia, a reclamante conta, ainda, que foi informada que a região não receberia mais caminhões-pipa e que não seria possível fazer nada.
Troca de concessão
Em junho do ano passado, a Prefeitura de Mauá abriu mão da concessão de água pela Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá) e assinou, junto a Sabesp, concessão do sistema de abastecimento do município pelos próximos 40 anos. O acordo previa investimentos por parte da companhia de R$ 332 milhões, que contemplam obras para modernização e ampliação da rede, construção de reservatórios e outras intervenções. No entanto, segundo os moradores, a troca parece ter valido de nada.
Segundo Martins, os problemas de abastecimento de água já existiam enquanto a Sama administrava a concessão de água na cidade, no entanto, quando a situação foi regularizada, nada mudou. “Muitos moradores, assim como eu, regularizaram sua situação, mas mesmo assim continuaram sem água na torneira. É um problema histórico que ninguém resolve”, reclama. A promessa da administração municipal e da companhia era acabar com a falta de água na cidade.
Sabesp responde
Em nota, a Sabesp responde que o Jardim Zaira é contemplado pelo Programa Água Legal, que regulariza ligações clandestinas na rede de abastecimento de água. A previsão de início dos trabalhos é o segundo semestre de 2021. “A Sabesp tem reforçado o abastecimento com caminhões-tanque na rua Manoel Nascimento, viela 70, três vezes por semana, para reduzir o impacto das ligações irregulares no cotidiano dos moradores”, diz. O atendimento, segundo a companhia, será feito nas segundas, quartas e sextas-feiras.
A Sabesp destaca que antes do início das operações da companhia na cidade, eram registradas, em média, 800 reclamações mensais sobre falta d’água. Com a assinatura do contrato com a Sabesp, e a realização das três primeiras obras de melhorias no abastecimento, além de ampliação de redes, e o aumento na disponibilidade de água para a cidade, o número caiu para uma média de 80 reclamações. Em março, na área citada na demanda, foram registradas 16 reclamações.
Procurada, a Prefeitura de Mauá não se manifestou sobre o caso.