O coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos (Psol), que colocou seu nome para a disputa do governo do Estado, disse que essa opção foi colocada como forma de fortalecer a esquerda contra o governador João Doria (PSDB) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A estratégia é ter seu nome na disputa estadual – já que teve bom desempenho chegando ao segundo turno no ano passado contra Bruno Covas (PSDB) – e Lula disputando o Palácio do Planalto, visto que as pesquisas até o momento mostram que o petista teria boa chance de vencer.
Apesar de deixar claro que ainda não é o momento de disputa política ou de adiantar o processo eleitoral do próximo ano, Boulos aponta que o caminho deve mesmo ser este. Em entrevista ao RDtv, a liderança de esquerda ataca o projeto político do PSDB no estado, e diz que a CPI da Pandemia, que já ouviu os ex-ministros da Saúde do atual governo, deve apontar para um processo de impeachment. “Se não fizer o Senado estará sujando as mãos de sangue”, comentou Boulos que diz que Bolsonaro deve ser responsabilizado pelas cerca de 410 mil mortes causadas pela pandemia.
“O grande desafio no Brasil é tirar o país desse pesadelo que o Bolsonaro colocou, estamos com a pandemia descontrolada, o país que pior lidou no mundo todo com a pandemia, o único país a negar vacina. Foram oferecidas 70 milhões de doses no ano passado e o Bolsonaro negou. O Bolsonaro atua negando, e ele é diretamente responsável pela morte de 410 mil brasileiros; fica indicando remédio que não tem nenhuma eficácia, fazendo chicana, brincando com a vida das pessoas. Você soma isso a uma pandemia de fome, de miséria, de desemprego, que a gente está vivendo no país com 19 milhões de pessoas voltando ao mapa da fome e o governo corta o auxílio emergencial no momento em que as pessoas mais precisam”, critica Boulos.
Segundo o líder do MTST a esquerda deve começar a ser articular, não esperar 2022, porém não é hora para disputa política. Para ele a CPI, se for séria, como ele diz, tem a oportunidade de tirar Bolsonaro do poder. “Estamos no momento mais crítico da história recente do Brasil, com crise sanitária, econômica e social e um presidente que é uma crise política ambulante; ninguém aguenta mais, o Brasil está vivendo um pesadelo. Do meu ponto de vista o grande desafio, não só da esquerda, da maior parte do povo é acabar com esse pesadelo e tirar o Bolsonaro da presidência da República. Neste sentido temos que colocar projetos pessoais e mesmo partidários em segundo plano por esse objetivo maior. Por isso eu tenho defendido uma unidade no campo progressista, uma unidade da esquerda para derrotar o bolsonarismo e essa unidade precisa acontecer já agora, não tem que esperar até 2022. O Brasil não aguenta sangrar, como vem sangrando, até 2022. A CPI da pandemia, por exemplo, coloca a oportunidade real para se pautar o Impeachment, a oposição tem que estar unida agora e, caso o Bolsonaro não seja derrubado até lá, atuar para derrota-lo em 22”, aponta Boulos.
Boulos aposta num desgaste do governo tucano que pode favorecer sua eventual candidatura. “As pesquisas expressam uma fadiga. Quem consegue lembrar de algum legado positivo do governo? A segurança pública é rui, no metrô se o Doria prometer para 2022, pode escrever aí 2060, a saúde pública em São Paulo não é modelo, eu dei aula no governo Alckmin e vi como os professores são maltratados, mal pagos e a educação não é prioridade, não existe uma medida relevante de apoio econômico para pequenos comerciantes empreendedores desempregados, sendo que o Estado tem R$ 250 bilhões de orçamento. Ninguém vê essa capitania hereditária que fizeram aqui com bons olhos. A minha decisão de colocar o nome para a disputa do governo de São Paulo é um gesto em defesa dessa unidade em nível nacional e também o reconhecimento da importância da gente derrotar esse projeto desastroso do PSDB no Estado, faz 30 anos que essa turma está aí. O Psol vai realizar seu congresso e tomar as decisões. Existe uma ampla maioria dentro do partido para a construção da unidade e o nome vai depender do grau de competitividade em 22. Quem tem melhores condições de derrotar o Bolsonaro. As pesquisas mostram hoje que o Lula é o mais competitivo, mas isso tem que ser feito esse debate mais para frente, tem que passar pelo programa, pelo projeto. Eu não vejo possibilidade de composição eleitoral com a direita tradicional que hoje se chama de Centro. Não é por sectarismo, mas que existe um antagonismo de projeto. Não é só ser antibolsonaro tem que dizer o que queremos para o Brasil”
Nesta articulação pelo governo do Estado, Boulos diz que é possível a articulação com outros atores da política como Márcio França (PSB) que faz também a linha progressista, mas também tem ligações com o tucanato, já que foi vice de Geraldo Alckmin. “O diálogo nunca faz mal, até com seu adversário político. Márcio tem ligações no campo progressista, mas tem ligações como o PSDB porque foi vice do Geraldo Alckmim. Tenho toda disposição de conversar e discutir um projeto. Eu apoiei márcio no 2° turno de 2018, infelizmente ele não retribuiu no segundo turno em 2020”, concluiu.