Um projeto de resolução aprovado em 2018, de autoria do hoje presidente da Câmara de Santo André, Pedrinho Botaro (PSDB), vai ser colocado em prática e prevê a divulgação de fotos de pessoas desaparecidas no site, redes sociais e até na Tv Câmara, nos intervalos das sessões legislativas. O autor do projeto espera que a iniciativa contamine também outros sites não apenas os ligados ao poder público, mas também os de empresas privadas, para a divulgação massiva das fotos dos desaparecidos numa tentativa de auxiliar as famílias.
A ideia é que as imagens passem a integrar as mídias eletrônicas da câmara apresentando baners com informações como a foto, nome, data do desaparecimento e contato dos familiares. O número de desaparecidos na cidade e na região é uma incógnita. A Secretaria Estadual de Segurança Pública não divulga esse quesito nas suas estatísticas e a assessoria do órgão não respondeu à solicitação. O Ministério Público também tem o PLID (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos) que publica diariamente em sua rede social as imagens dos desaparecidos e a atualização do status quando a pessoa é localizada.
Botaro explica como a iniciativa da câmara surgiu, baseada no pedido de ajuda de um pai que usou a Tribuna Livre para falar do drama do desaparecimento da filha de oito anos, ocorrido em 2006. O projeto foi inclusive batizado de Amanda Oliveira em homenagem a criança desaparecida. Amanda de Oliveira Mendes sumiu enquanto o irmão mais velho a deixou brincando em frente de casa para ir ao mercado, no bairro Jardim Santo André. Até hoje o caso não foi solucionado. “O pai da Amanda procurou ajuda dos vereadores em 2018. Após a sua fala na Tribuna Livre, o recebemos em nosso gabinete e nos propomos em ajudar de alguma forma, não apenas ele, mas todas as famílias que infelizmente passam por essa situação. Colocamos o nome do projeto de Amanda de Oliveira como símbolo da luta desse pai que até hoje busca por sua filha”, relembra o parlamentar.
O drama de quem procura um ente querido que desapareceu é muito semelhante. Além do pai de Amanda Oliveira há algumas outras centenas de pessoas que há tempos procuram seus parentes que sumiram, é o caso de Jorge Salgueiro, morador do bairro Paulicéia, em São Bernardo, que não vê a esposa Ivanir Terezinha Alves há um ano e quatro meses. Ela desapareceu em 8 de janeiro de 2020 quando saiu de casa para buscar remédios no Centro da cidade. Dependente química, Ivanir já tinha se ausentado de casa, mas nunca ficou mais do que um ou dois dias fora.
O marido, além de cobrar providências da polícia, fez também uma investigação própria. Passou por lugares que a mulher poderia ter frequentado, andou por lugares onde usuários se encontram, mas até hoje nada de concreto. Uma informação dava conta de que ela teria sido morta e enterrada em um terreno baldio, a polícia checou a informação, chegou a escavar o local apontado, mas não encontrou nada. Já são mais de 500 diais sem notícias. “É uma situação desesperadora, a polícia é muito devagar”, lamenta o marido.
A proposta do projeto andreense é ser mais um canal para ajudar na localização dos desaparecidos. “Vamos utilizar o site, as nossas redes sociais e os intervalos na Tv Câmara, colocando fotos de pessoas que já estão no cadastro de desaparecidos. Eu quero também conversar com a Polícia Civil, com a qual temos boa relação, para trazer mais casos e publicar. Meu objetivo é que o público que consulta o site da câmara para saber sobre o dia a dia do Legislativo tenha também essa informação. Agora precisamos saber qual é o meio para acessar as informações”, diz o vereador tucano.
Botaro aponta que o projeto não teve custo algum para a Casa de Leis. O site e mídias sociais da câmara serão alimentados com as informações pela própria equipe de comunicação do Legislativo. “O projeto não foi levado adiante em 2018 por questões técnicas de alimentação das redes, mas agora isso vai ser feito pela nossa nova equipe e não terá custo algum para a Casa”, disse o tucano.
Além da busca ativa dos casos a serem publicados a Câmara também vai receber informações diretamente das famílias, para isso disponibilizou o e-mail “desaparecidos@cmsandre.sp.gov.br” para que conhecidos e familiares mandem informações.