Independência do BC coloca a economia em xeque, analisa pesquisador da USCS

Em entrevista ao RDtv nesta segunda-feira (07/06), o economista e membro da Coordenação da ABED-RJ (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia), Adhemar Santos Mineiro, disse que o novo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, luta para manter a autonomia da instituição até as próximas eleições, a fim de desacelerar a inflação, câmbio e taxa de juros, no entanto, medida pode causar conflitos políticos e econômicos.

De acordo com o economista, que publicou o estudo na 17ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano (Conjuscs), ao mesmo tempo em que a independência do BC acontece, comentários sobre a não permanência do ministro Paulo Guedes à frente do Ministério da Economia colocam a possibilidade de que o seu substituto seja exatamente Campos Neto. “Isso significaria que já o primeiro mandato do presidente do Banco Central não seria cumprido, o que seria muito curioso para os que defendem que uma das vantagens do novo sistema implantado é a continuidade dos tomadores de decisão na instituição”, diz.

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Para o professor de economia, ainda abriria discussão sobre a sua efetiva e real independência frente ao Executivo Federal. “Entra em xeque a discussão do que funciona para o mercado financeiro e os cargos de direção do Banco Central para cargos de primeiro escalão do Executivo Federal”, explica ao citar que, em um primeiro momento, se colocaria na balança o “funcionamento independente” da Autarquia de Natureza Especial”, como a continuidade de objetivos e gestão dada pela existência de um mandato.

Aumento de juros

A nova institucionalidade aplicada há quase dois meses começa a operar em meio a um caos inflacionário, conforme aponta o professor, e faz face a uma elevação de taxa básica de juros após mais de quatro anos de revezamento entre período de quedas e estabilidades, desde 2016. Afim de administrar a crise em um curto prazo, diminuir os juros, inflação e o câmbio, o Banco Central quer manter a independência econômica.

Em meados de março deste ano, o Comitê de Política Monetária reverteu um processo de queda da taxa Selic iniciado em outubro de 2016 (quando a taxa baixou de 14,25% para 14%) e que havia seguido sem interrupções até este ano (quando a taxa subiu de 2% para 2,75%). Em meio a uma poderosa crise econômica, na sequência de um ano em que a economia brasileira recuou mais de 4%. Portanto, segundo o professor, não há demanda a ser contida pela elevação da taxa de juros neste momento.

A continuidade no processo, segundo o professor, não vai mudar nada para a população a princípio, uma vez que o BC já operava com autonomia, mas pode gerar mudanças significativas caso haja maior intervenção do Estado, a partir de 2022. “Saberemos de fato o que vai acontecer somente após as eleições, quando for viabilizado quem assumirá cada cargo”, pontua.

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