Embora as prefeituras garantam que não há atraso para a aplicação das segundas doses da vacina contra a covid-19, há quem esteja há poucos dias do fim do prazo estipulado e ainda não conseguiu a data para completar a imunização. O drama da demora para tomar a segunda dose deixa as famílias apreensivas. Especialistas recomendam que o ideal é seguir os prazos estabelecidos pelo fabricante, mas quem não tomou não deve abandonar a imunização e voltar para completar o esquema vacinal.
Temor pelo atraso é o que acontece com o casal Natanael Vieira Machado e Kelly Medeiros, moradores de Santo André. Ela tomou a primeira dose da vacina do Butantan, no dia 18 de julho e, considerando o prazo de 21 a 28 dias para a segunda dose, ela já estava, nesta quarta-feira (11/08) no 24° dia, mas não consegue agendamento. “Minha esposa está muito ansiosa pela segunda dose, mas não conseguimos agendar, o sistema sempre mostra que o agendamento não está disponível”, comenta o marido que acredita que dezenas de outras pessoas estão na mesma situação na cidade. “Se considerarmos só quem estava no drive-thru do Shopping Global, naquele dia, quando ela tomou a vacina, todos devem estar tentando agendamento como nós”, comentou Machado, que diz entrar mais que uma vez ao dia no site da prefeitura para tentar agendamento e já tentou também outros canais. “Me deram um número 0800 que a gente liga e não resolvem nada, pedem para esperar o 28° dia, mas aí quando agendar ela já vai estar atrasada segundo a bula da vacina”, lamenta o marido que teme ter o mesmo problema quando chegar a sua vez de receber a segunda dose.
Em nota, a prefeitura de Santo André diz que o agendamento é aberto poucos dias antes do fim do prazo e que não há porque ocorrer atraso pois não faltam vacinas. “Informamos que nesta quarta-feira (11) a vacinação está destinada para pessoas com mais de 18 anos sem comorbidades. Além disso, a vacinação também está direcionada para pessoas com 45 a 49 anos com comorbidades que tomaram AstraZeneca. Não há problema de falta de vacinas no município que, inclusive, segue antecipando a vacina para novos públicos. O agendamento para a segunda dose é aberto em tempo oportuno e dentro do prazo estabelecido pelo Ministério da Saúde”, informou a administração em nota. A prefeitura de Santo André diz ainda que promove ações constantes de conscientização em seus canais oficiais para orientar sobre a importância da segunda dose e da completa imunização.
Para o médico Juvêncio Furtado, professor de infectologia da Faculdade de Medicina do ABC, o prazo determinado é o ideal para a imunização, mas a demora ou atraso para a segunda dose não causam tanto problema, além da ansiedade. Segundo ele extrapolar o período indicado pelo fabricante não diminui a eficácia da vacina. “Certamente o ideal é seguir o cronograma original, mas na ausência, o atraso não prejudica a eficácia da vacina. Caso alguém tenha perdido o prazo, deve fazer a segunda dose assim que possível”, sustenta o especialista.
O pneumologista Elie Fiss, também professor da FMABC, avalia que o atraso pode atrasar a imunização do paciente. “Pode atrasar o início da eficácia, mas assim que tomada a segunda dose a essa eficácia é retomada, mas não pode atrasar muito”, recomenda o médico.
Cidades
Cada município tem sua estratégia de vacinação e também como contornar eventuais atrasos na segunda dose. São Bernardo, por exemplo, tem uma unidade de saúde, o Clube dos Meninos, no Rudge Ramos, que atende a livre demanda. Caso o munícipe não consiga agendar no prazo de 28 dias para a Coronavac e 12 semanas da AstraZeneca ou Pfizer, o reforço é aplicado no Clube dos Meninos, das 8h às 15h.
Ribeirão Pires optou por não adiantar os grupos a serem vacinados para garantir que todas as vacinas que chegam do Programa Estadual de Imunização atendam o público alvo sem falta do imunizante. “O Governo do Estado, ao mandar os lotes, já indica o que é para primeira e segunda dose. Ribeirão Pires tem destinado as vacinas à população conforme orientação do Estado, por isso, não há falta de imunizantes na cidade. O município também tem respeitado o intervalo dos imunizantes e não antecipou nenhuma aplicação de vacina”, justifica a prefeitura. Ribeirão também falou sobre a abstenção, ou seja, quem não retorna para tomar a segunda dose. “Não há como precisar o número de pessoas que não retornaram para a segunda dose, devido aos diferentes imunizantes disponíveis. No entanto, há uma abstenção de 15 a 18% das pessoas que não retornam na data correta”, diz nota da prefeitura.
Em São Caetano a prefeitura informa que também não há atraso para a segunda dose. “Os agendamentos são abertos próximo à data aprazada nas carteirinhas”, informa a administração sancaetanense. A prefeitura também informou que 1.500 pessoas não voltaram aos postos para tomar a segunda dose no prazo determinado.
Em Mauá e Rio Grande da Serra, não é necessário agendamento para vacinar-se contra a covid-19. As cidades informam que não há problemas de atraso para as segundas doses.
A prefeitura de Diadema, onde também não é preciso agendamento, destacou que os lotes de primeira e segunda doses chegam ao município com sua destinação definida e não podem ser misturados. “Quem recebeu a primeira dose deve voltar, respeitando o intervalo recomendado, para receber a aplicação da segunda dose e completar o esquema vacinal”, diz a prefeitura. A cidade aponta um número grande de pessoas que não voltaram para completar a imunização. “Até o dia 4 de agosto, 5.498 pessoas estavam em atraso com a segunda dose no município. Independente do tempo, a Secretaria Municipal da Saúde reforça que quem já recebeu a primeira dose e ainda não completou seu esquema vacinal, precisa tomar a segunda dose o quanto antes”.