Desde o último 17 de agosto o governo do Estado de São Paulo conta com um decreto que permite o uso de 100% do espaço dos estabelecimentos comerciais e, assim, acaba com uma das principais medidas para o combate à covid-19. Tal situação não foi seguida na região, pois das sete cidades apenas São Caetano igualou às medidas estaduais. Especialistas ouvidas pelo RD apontam a necessidade de uma comunicação expressa para a população de que a pandemia não acabou e que ainda temos de tomar muitos cuidados, principalmente ao levar em conta dois fatores: a variante Delta e o baixo número de pessoas com o esquema vacinal completo.
O governo do Estado manteve a obrigatoriedade do uso de máscaras, o distanciamento social, o aferimento de temperatura e a não autorização para festas ou participação de torcidas em competições esportivas para não gerar aglomeração. Porém, o que se vê é a redução do isolamento social, como mostra o próprio site do governo estadual, que aponta uma média de isolamento no Estado de 39% de segunda a sexta e de 45% nos finais de semana, índices parecidos com que ocorreram entre a primeira e segunda onda entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021.
Absurdo
“Eu acho que o principal erro do Estado de São Paulo foi como eu tenho visto no Facebook em que até médicos estão falando que acabou a quarentena. Então, o recado que o governador do Estado passa é que a pandemia acabou, pois quando você fala em só usar máscara e mesmo assim já coloca uma data para reavaliação (1º de novembro). Eu acho que tem de deixar bem claro que ainda não dá para ter aglomeração e dizer que pode ter 100% de ocupação em um bar, em um restaurante, para mim é um absurdo. O recado que se passa com isso é que a pandemia acabou e não é isso que está acontecendo”, comenta a infectologista Elaine Matsuda.
Sonia Regina Pereira de Souza, epidemiologista e docente do curso de Medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), alerta para a necessidade de uma conscientização correta da população sobre a necessidade de conviver com as medidas de prevenção, o chamado novo normal.
“É uma combinação das ações, é ter imunização, é ter o esclarecimento da situação, essa conscientização da população, do dever dos novos hábitos pelo menos enquanto não for declarado o controle da pandemia. Enquanto a pandemia estiver ativa em alguma parte do mundo, nós temos espaço para que possa surgir uma nova variante, uma nova cepa que seja mais agressiva e mais transmissível”, relata a especialista.
Sonia ainda alerta para a necessidade do poder público entender que a comunicação com a população deve se atentar a cada público. “Não dá para achar que vai falar com um jovem do mesmo jeito que fala com um idoso. Temos de entender como cada público se comporta para alertá-los da melhor maneira possível”, comenta.
Situação
Claro que, além dos cuidados, a imunização é importante para conseguir barrar a pandemia. No Reino Unido, a variante Delta fez com que o número de casos aumentasse. Segundo dados da Universidade John Hopkins, nos últimos 28 dias, 757.067 britânicos foram infectados. No mesmo período foram 2.491 mortes, 0,3% do total.
No Brasil, no mesmo período, foram 885.953 casos com 24.761 mortes, ou seja, 2,75% do total. A diferença está no percentual da população com a imunização completa. Até o dia 20 de agosto o Reino Unido já tinha imunizado completamente 62,3% da população, enquanto o Brasil estava com 25,5%.
“Temos de alertar as pessoas de que esse é o principal papel das vacinas, elas não vão impedir que você tenha covid, mas vão evitar que você tenha uma forma grave da doença e que possa até morrer. Temos de ter essa combinação, melhorar a imunização e os cuidados”, completou a epidemiologista.