Crise política virou uma expressão ligada ao que ocorre no governo federal e as diversas polêmicas que envolvem o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), mas no ABC o cenário não é tão diferente do que se vê nacionalmente. Processos de impeachment, contas rejeitadas de ex-prefeitos, divergências sobre as possibilidades em 2022 e a possibilidade de eleições suplementares geram as últimas novelas políticas da região.
A novela que conta com o maior número de capítulos é a de São Caetano. Apesar do maior número de votos na eleição de 2020 ter escolhido José Auricchio Júnior (PSDB) como o prefeito, o tucano não tomou posse devido a sua condenação em segunda instância acusado de doações ilegais na campanha de 2016.
Desde então, Tite Campanella (Cidadania) assumiu o comando do Palácio da Cerâmica (pois foi eleito presidente da Câmara) e todos ficaram em compasso de espera para decidir o que vai acontecer. Se o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reverter as decisões anteriores, Auricchio toma posse para o quarto mandato. Caso nada mude, nova eleição vai decidir quem será prefeito até 31 de dezembro de 2024.
A segunda opção é tema de diversas conversas na cidade, com surgimento e desaparecimento de pré-candidatos conforme a demora para a decisão, abre espaço para debates partidários. Nem mesmo entre os atuais governistas existe consenso sobre apoiar Tite em caso de novo pleito. Na oposição, Fabio Palacio (PSD) consolida o seu nome e ainda são aguardadas as orientações sobre PT e PSOL na cidade.
Uma cidade em situação idêntica é Ribeirão Pires. O TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) cassou os diplomas do prefeito Clovis Volpi (PL) e do vice-prefeito Amigão D’Orto (PSB), pois consideraram que no julgamento das contas de Volpi em relação ao ano de 2012 houve irregularidade no cancelamento da primeira análise da Câmara que era pela rejeição e que depois foi revertida para a aprovação.
Caso não consiga reverter a situação, Guto Volpi (PL) assume a cadeira de chefe do Executivo interinamente até nova eleição. E as movimentações sobre o assunto já começaram com os possíveis nomes para disputa, como Gabriel Roncon (Cidadania), Flavia Dotto (PSDB) e do próprio Amigão que, apesar da possibilidade de ter o diploma cassado, poderia entrar na disputa por não estar envolvido diretamente no problema.
Impeachment
A mais nova crise ocorre em Rio Grande da Serra. O prefeito Claudinho da Geladeira (PSDB) é alvo de dois pedidos de impeachment na cidade. Um por questões da forma de administrar e outra em decorrência de problemas na vacinação contra a dcvid-19, em situações demonstradas durante a CEI (Comissão Especial de Investigação).
O principal ponto é a disputa interna de poder, algo que também influencia na situação. Claudinho rompeu com o grupo de Carlos Augusto César, o Cafu, líder do grupo, que tem como um dos principais nomes a vice-prefeita Penha Fumagalli e o presidente da Câmara, Charle Fumagalli (ambos do PTB).
Claudinho da Geladeira chegou a ser afastado por 90 dias do cargo, pedido feito pelo vereador Claudinho Monteiro (PTC) para “não atrapalhar as investigações das comissões processantes”, porém o afastamento durou menos de 24 horas após a Justiça definir que o tucano poderia ficar no cargo mesmo com os processos de cassação a serem definidos até 15 de dezembro.
Quem também passou por um pedido de impeachment foi o prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira (PT). Porém, diferente de Rio Grande, a Câmara mauaense rejeitou por 22 votos contra e uma abstenção. A questão é que o problema se reverteu para o autor do pedido, Sargento Simões (Podemos). Ao realizar o seu discurso, o vereador insinuou um suposto pagamento de propina para que a CEI da Iluminação Pública não prosperasse. Com a repercussão das falas na imprensa, os demais vereadores não esconderam a irritação e estudam a criação de um comitê de ética para analisar o caso.
Rejeição de contas
Três ex-prefeitos tiveram suas contas rejeitadas pelas Câmaras em menos de dois meses. O primeiro foi Atila Jacomussi (Solidariedade), que viu a maioria dos vereadores de Mauá reprovar suas contas e assim deixá-lo de fora de uma possível eleição no próximo ano. Na mesma semana ocorreu a situação em relação a Kiko Teixeira (PSDB), que teve suas contas rejeitadas em Ribeirão Pires, mas que já estava fora do páreo eleitoral devido a uma condenação por improbidade administrativa ainda quando era prefeito de Rio Grande da Serra.
A última questão foi com o ex-chefe do Executivo de Diadema, Lauro Michels (PV). Apesar do histórico do Legislativo diademense de aprovar as contas de todos os prefeitos, independente do que é indicado pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), desta vez os parlamentares resolveram seguir a Corte de Contas. Nem mesmo a presença do verde na Casa de Leis reverteu a situação.
Eleições 2022
O ponto considerado mais leve, em comparação com os demais municípios, são aqueles que pensam no cenário de 2022. Em Santo André, o vereador Jobert Minhoca (PSDB) deixou a liderança de governo após ter a certeza de que não receberia apoio para a campanha de deputado estadual. O tucano chegou a “lançar” sua pré-candidatura nos últimos dias, porém, sem qualquer referência ao seu partido.
Minhoca está com um pé fora do PSDB e existe a possibilidade de migração para o Republicanos. Caso confirme a futura candidatura, o parlamentar pode disputar votos com Ana Carolina Serra, primeira-dama da cidade e que tem seu nome cotado para uma disputa eleitoral há pelo menos quatro anos.
Em São Bernardo, a situação é de expectativa. Orlando Morando (PSDB) trabalha nos bastidores para ter seu nome apontado como vice em uma futura chapa liderada por Rodrigo Garcia (PSDB) na disputa do comando do Palácio dos Bandeirantes. Caso consiga o aval da legenda, obrigatoriamente teria de renunciar ao cargo de prefeito, algo que também gera expectativa sobre o comportamento político, que teria Marcelo Lima (PSD) no comando do Paço.