Levantamento feito com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS) revela que o número de mamografias feitas no Brasil caiu 84% no período pandêmico, justificado pelo isolamento social e o medo das pessoas em buscarem unidades de saúde. Apesar disso, em pleno Outubro Rosa, mês de conscientização e reforço da necessidade de prevenção ao câncer de mama, o ABC soma quase 5 mil pessoas que na fila para realização do exame.
Diadema tem o maior número de pacientes em espera na região, são 2.587 pessoas na fila; Ribeirão Pires (1.540) e Santo André (300). Já São Bernardo informou, via nota, que não há fila de espera no município. Questionadas, as prefeituras de Mauá e Rio Grande da Serra não responderam até o fechamento da matéria.
Apesar do registro diversificado entre as cidades, a Fundação do Câncer alerta que durante a pandemia, o tempo médio entre a primeira consulta com mastologista e o diagnóstico aumentou de 28 para 45 dias, o que tem preocupado especialistas da área, de acordo com a maior incidência de casos de câncer de mama no País.
A mastologista do Hospital e Maternidade Brasil, em Santo André, Melissa Veiga esclarece que neste período houve importante redução no número de atendimentos, no serviço público e no privado. “A queda nos atendimentos pode representar um atraso nos diagnósticos, com possível aumento na incidência de tumores em estágio avançado”, afirma a médica que também atua na rede pública de Ribeirão Pires.
Em Santo André, os atendimentos baixaram de 787 consultas em 2020 para 243 este ano, variação de 69,1%, enquanto em Ribeirão Pires, a redução foi de 160 para 114 atendimentos (28,75%). Em São Bernardo houve baixa de 4.287 para 3.520 atendimentos até o momento, variação de 17,89%; Já São Caetano registrou baixa de 2.332 atendimentos para 2.100 (9,9%); Diadema, que antes atendia a média de 25 pessoas/mês, passou a atender 12, mas não informou o total de atendimentos realizados.
Para a mastologista, o que chamou atenção em relação a baixa nos atendimentos foi a alta taxa de cancelamentos de consultas por parte dos próprios pacientes e procedimentos não urgentes desmarcados. “Tivemos uma grande recusa de pacientes em procurar serviços de saúde por medo de contraírem Covid-19”, explica a médica ao citar que por conta destes fatores, a incidência de câncer no Brasil tem aumentado disparadamente.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, para o Brasil, 66.280 casos novos de câncer de mama devem surgir para cada triênio 2020-2022 e, dentre os principais fatores citados pela médica está o sobrepeso, sedentarismo e consumo exacerbado de álcool. “São fatores que fazem com que o número cresça desproporcionalmente. Mas vale lembrar que cerca de 30% dos casos podem ser evitados com a prática de hábitos saudáveis como: prática de atividade física, evitar tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas e manter o peso corporal adequado”, orienta.
Ainda de acordo com a mastologista, o autoexame das mamas e a mamografia de rastreamento após os 40 anos de idade são imprescindíveis. “O diagnóstico possibilita tratamentos menos agressivos e com altas taxas de sucesso”, aconselha. Pacientes com alto risco para desenvolvimento de câncer de mama devem ser avaliadas pelo seu médico para definição da melhor conduta a ser adotada.
Outubro Rosa
Com intuito de conscientizar as mulheres sobre a importância da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama, as prefeituras da região lançaram a tradicional campanha Outubro Rosa, que tem como objetivo difundir o acesso a informação, melhorar o controle da doença e diminuir o índice de mortalidade.
Santo André promoverá, ao longo de outubro, diversas atividades de prevenção ao câncer de mama como força tarefa de exames de mamografia e ultrassonografia. As unidades de saúde da rede de atenção básica realizarão ações de orientações, roda de conversa, coleta de papanicolau, além de atividades voltadas ao bem estar e cuidado feminino. O espelho d’água do Paço Municipal também ficará iluminado na cor rosa, tema da campanha.
Ribeirão Pires, Diadema e São Caetano se organizam com atividades e palestras. Na primeira cidade haverá mutirão de mamografia – com data a ser definida – enquanto em São Caetano, uma carreta móvel circulará por pontos estratégicos entre 5 de outubro e 4 de novembro, para exames sob livre demanda de: ultrassom vaginal, pélvico ou transvaginal, de tireoide, da mama, Papanicolau e Linda (plataforma para detecção precoce de lesões na mama, por meio de inteligência artificial e utilizando imagens térmicas).
São Bernardo vai oferecer serviço de mamografia itinerante, por meio da Unidade Móvel – Amiga do Peito. A carreta atenderá durante três sábados (16,23 e 30/10), na Praça da Matriz, por livre demanda. Para mulheres até 49 anos, é necessário apresentar o pedido médico. A faixa etária de 50 a 69 anos, não precisa do pedido médico, só comparecer ao local. Além disso, durante todo o mês, as coletas de Colpocitologia Oncótica serão priorizadas nas 33 Unidades Básicas de Saúde (UBS), por agendamento, de segunda a sexta, na UBS de referência da paciente, das 8h às 17h. Com dia D, no sábado (16/10), das 8h às 17h.
A Sociedade Brasileira de Mastologia alerta para a importância das mulheres manterem a rotina da saúde preventiva, ir ao médico e realizar exames agendados, principalmente aquelas diagnosticadas com a doença, em que se torna ainda mais imprescindível não interromper o tratamento.