Após um ano e oito meses de pandemia e medo de se contaminar pelo vírus da covid-19, a vacinação e a liberação de atividades econômicas trouxeram sensação de alívio e, junto, a falsa sensação de normalidade, que leva a população a ter menos cuidados preventivos. Mas a recomendação é manter os cuidados como antes, principalmente agora com a ameaça de uma quarta onda de contaminação em razão da descoberta de uma nova cepa, a ômicron primeiramente na África do Sul, mas já presente em mais de 10 países. De todos os cuidados, o uso da máscara é indispensável, segundo a infectologista Elaine Matsuda.
A cuidadora Carolina Lauro de Morais, moradora de São Bernardo e mãe de quatro filhos, diz que no começo da pandemia os cuidados eram maiores, agora já nem tanto, até pela necessidade do dia a dia. Ao ser perguntada se higieniza tudo que vem da rua, inclusive suas roupas, antes de fazer outras coisas em casa, ela admite que não. “Para falar a verdade não mais, muitas das vezes já chego em casa e vou para o banho, mas outras tenho que fazer algo correndo e não consigo. Tento manter alguns dos costumes, mas infelizmente não são todos que eu consigo”, comenta.
Carolina diz com toda a certeza que, com o tempo, as pessoas relaxaram e reduziram o excesso de cuidados. “Até porque já está liberando tudo e nós caímos na falsa sensação de segurança”, diz. Apesar da postura Carolina não se sente totalmente segura em relação à covid, principalmente por causa dos filhos, que foi obrigada a mandar para as aulas presenciais e perdeu uma pessoa próxima para a doença. “Não me sinto segura, mas também não consigo manter a rotina de quando estávamos trancados em casa. Meu medo é maior por eles (os filhos), mais por eles do que por nós mesmos”, diz a cuidadora.
Carolina conta que, se pudesse, isolaria os filhos em casa, mas ela mesma não pode sair do trabalho que encara presencialmente todos os dias. “Para ser sincera com toda certeza eu afastaria meus filhos, mas não conseguiria me afastar do trabalho pela diminuição de pagamento, pois pago aluguel e sou mãe solo. Mas se não fosse esse problema com toda certeza me afastaria”, afirma.
A corretora de imóveis Cirles Silva, que mora com o filho adolescente que tem bronquite, diz que tem medo da doença, mas também sente que agora tem menos cuidados no dia a dia desde que a vacinação começou e as mortes pela covid-19 reduziram. Ainda assim para entrar em casa ela mantém um ritual, até para proteger o filho. “Em casa eu deixo um frasco de álcool gel na entrada da cozinha junto com toalhinhas e higienizo as mãos. Os sapatos que usei na rua eu deixo do lado de fora junto da porta da cozinha. Na casa da minha irmã, quando a gente vai lá, ela usa aquele álcool em aerossol e ela passa na gente, na roupa e nos calçados antes de entrar. Mas tem muita gente que não faz nada disso, com o tempo isso se perdeu”, analisa.
Para a infectologista Elaine Matsuda, os cuidados, como uso de máscara e álcool em gel fora de casa são essenciais ainda, mesmo com o relaxamento das medidas anunciadas, como não mais exigir máscara em locais abertos, a partir do dia 11 de dezembro.
As outras medidas como trocar a roupa quando vem da rua ou higienizar produtos e alimentos são boas para a saúde em geral, mas não para a covid-19. As vias aéreas são as principais fontes de transmissão e infecção da covid-19, por isso o uso de máscara deve ser mantido mesmo sem ser obrigatório. “De longe a via mais importante mais importante deve ser mesmo a respiratória. Claro que higiene é importante, mas não é o mais importante. Com bom censo e em áreas sem aglomeração, acho que ok (tirar a máscara). O vírus entra em nossas casas de carona na gente mesmo. Essa semana fui a um ambulatório hospitalar onde eu sempre recomendava ao gerente que deixasse a porta aberta na recepção, quando eu cheguei lá estava fechada, funcionava com sensor, parece que não adianta a gente falar e orientar. Os gestores e empresários têm de entender que ambiente ventilado é indispensável. Fui a um restaurante na semana passada e tive de pedir para abrir as janelas. A moça perguntou se eu queria que abrisse a janela, e eu disse que não era eu que queria, vocês deveriam querer, pois a pandemia não acabou”, comenta.
Um dos motivos que levou à falsa sensação de segurança foi a abertura do comércio em geral e sem restrições de horários. Elaine orienta que se os estabelecimentos não tiverem o cuidado necessário e indispensável para manter a segurança dos clientes é possível que o governo possa criar novas medidas restritivas. “Todo mundo precisa manter o seu comércio aberto, então nada mais óbvio do que contribuir para evitar a transmissão. E vem aí uma nova variante do vírus, por isso é importante máscara, máscara e máscara”, recomenda.