ABC - quarta-feira , 1 de maio de 2024

Padre Lancellotti pede a retirada de pedras embaixo de viaduto em S.André

Padre Júlio Lancellotti faz apelo ao prefeito de Santo André, Paulo Serra (Foto: Reprodução Portal Informa ABC)

Nesta quinta-feira, dia 9/12, o padre Júlio Lancellotti fez um apelo, num vídeo, ao prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), em que pede atenção nos serviços sociais e acolhimento aos moradores em situação de rua do município. O material, gravado pelo portal Informa ABC, faz referência à grande quantidade de pedras instaladas estrategicamente no calçamento abaixo do viaduto Engenheiro Luís Vieira, sobre a avenida Ramiro Coleoni, no centro, que impedem o abrigo de qualquer pessoa.

O religioso afirma que tem recebido muitas fotos com o tipo de intervenção hostil feita em todo País. “O objetivo da minha mensagem foi alertar as autoridades de Santo André sobre o tipo de atitude, que exclui o morador de rua da sociedade, uma ação denominada aporofobia”, explica o padre Júlio Lancellotti. O termo se refere ao sentimento de rejeição ou hostilidade às pessoas em condições de pobreza. Dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que entre 2012 e 2020, o número de pessoas em situação de rua cresceu 140%, chegando a mais de 200 mil.

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Em fevereiro deste ano, o sacerdote fez uma intervenção e removeu pedras colocadas sob o viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida, no bairro do Tatuapé, em São Paulo.

Há mais de 35 anos, o padre está à frente de trabalhos sociais que amparam moradores de rua, por meio da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo. “É preciso pensar em ações de acolhimento e humanização ao atendimento voltadas a essas pessoas e diminuir a hostilidade com que elas são tratadas. Exclusão não é solução, pensar em moradia, locação social e as pequenas repúblicas são as soluções adequadas”, comenta.

Imagem mostra pedras que estão instaladas no calçamento abaixo de viaduto, em Santo André. (Foto: redes sociais)

Em nota, a Prefeitura de Santo André informa que “as pedras foram instaladas há cerca de 10 anos, com o objetivo de coibir a concentração de usuários de drogas que, no passado, transformavam o local em espécie de Cracolândia”.

Ainda segundo a Prefeitura,  o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP) promove diversas ações de acolhimento a essa população, dentre elas a oferta de alimentação diária e completa, equipes de abordagem e atendimento técnico.  Cerca de 110 abordagens são realizadas por dia. Há 208 vagas disponíveis em quatro albergues do município e durante a pandemia foi criado serviço de acolhimento emergencial, com 40 vagas,, em funcionamento no Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia.

Além disso, a cidade realiza a Operação Inverno, com o objetivo de convencer as pessoas em situação de rua a dormirem nos albergues da Prefeitura, especialmente nos dias mais frios. Para aqueles que recusam, as equipes da Secretaria de Cidadania e Assistência Social distribuem cobertores, kits com lanche, roupas, bem como de máscaras de proteção, produzidas pelo programa Costurando com Amor. Munícipes podem colaborar com o serviço de atendimento às pessoas em situação de rua por meio do Whatsapp (11) 93342-4178 (funcionamento 24 horas).

Arquitetura hostil

Também chamada de design hostil ou arquitetura defensiva, é um recurso que utiliza elementos para separar, manter distância ou proibir algum tipo de comportamento social. “São utilizados elementos de mobiliário urbano, como bancos inclinados, ondulados, muretas com elementos pontiagudos, e mesmo as pedras pontiagudas embaixo dos viadutos para impedir a permanência de pessoas nos locais”, diz a arquiteta Sandra Teixeira Malvese, professora e coordenadora adjunta do curso de Arquitetura e Urbanismo da Fundação Santo André .

Em muitos momentos, o recurso deixa claro a separação de classes, o que afeta diretamente as populações mais vulneráveis, como a em situação de rua. Pelos defensores do conceito, a arquitetura hostil é vista como forma de manter a ordem e impedir comportamentos ruins, ou seja, é feita para controlar o comportamento humano e desencorajar o uso do espaço para determinadas atividades.

Para Sandra Malvese, a melhor solução é encontrar novas alternativas de uso para os espaços públicos considerados vazios. “Os baixos de viaduto poderiam ser requalificados com outros usos ou que dessem apoio a essa população, ou que contivessem equipamentos esportivos – onde há espaço possível para isso – e elementos comerciais”, completa.

Veja vídeo:

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