Estudo feito pela Fundação Oswaldo Cruz aponta que, no Brasil, a depressão pós-parto ou puerperal acomete 25% das mulheres, ou seja, uma em cada quatro mães brasileiras enfrenta a doença, que envolve os filhos e todo o entorno dessa mãe, e pode também trazer sérias sequelas à criança. “Os filhos apresentam problemas no desenvolvimento, o que reflete diretamente em quem serão e nas relações que terão no futuro e todas as pessoas no entorno sofrem com a doença”, explica Miria Benincasa, professora de mestrado-doutorado em Psicologia da Saúde na Universidade Metodista, em entrevista ao RDtv, desta quarta-feira (26/01).
Do total de mães que sofrem com a doença, a incidência é maior em mulheres pardas, em situação de vulnerabilidade socioeconômica, com antecedentes de transtorno mental e hábitos insalubres (alto consumo de álcool, alta paridade e gestação não planejada, por exemplo). Segundo Benincasa, estudos importantes na área demonstram que mulheres de classes mais altas e que possuem rede de apoio familiar, o impacto nas crianças diminui e elas não apresentaram sequelas comportamentais. “Por outro lado, nas classes mais pobres, os filhos de mães que não tiveram suporte de familiares e acompanhamento profissional adequado, apresentaram problemas de conduta e comportamento”, afirma a psicóloga.
Fatores de risco podem favorecer o surgimento ou intensificar os sintomas da depressão em gestantes e mulheres puérperas, como questões relacionadas à renda, dificuldade de acesso à saúde e recursos sociais, violência obstétrica, gravidez não planejada ou indesejada e o não compartilhamento do momento da vida com pessoas significativas – pais, companheiros (as), amigos, e demais familiares (rede de apoio).
Os sintomas são semelhantes aos da depressão em geral, como falta de prazer e desejo, tristeza, alteração de peso e do sono. “Os dois últimos são mais difíceis de diagnosticar, pois o pós-parto já traz alterações de peso, além disso a criança demanda uma atenção e muda a rotina da mãe, o que traz alterações do sono, mas somados aos outros sintomas, demonstram que a mãe pode ser acometida ou está com a doença”, explica Benincasa.
Miria Benincasa integra o grupo de consultores do projeto de lei 98/18, que institui o aconselhamento e psicoterapia para prevenir ou reduzir a depressão em mulheres durante exames pré-natais e entre 48 horas e 15 dias após o parto. O PL já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pela Comissão de Direitos Humanos e segue em apreciação no Senado. “Após aprovação e implantação da lei será necessário promover treinamento aos profissionais de linha de frente da Atenção Básica, que são aqueles que têm o primeiro contato com a mãe, para que seja garantido o rastreamento do quadro. Com o norteamento e verificação do caso, a paciente será encaminhada a um profissional especializado em saúde mental perinatal (psicólogo ou psiquiatra)”, diz.
Benincasa afirma que o ABC já está à frente no campo das pesquisas sobre o tema. “Temos muitos profissionais e estudantes de graduação envolvidos nas pesquisas aqui na região, por isso estamos em uma situação bem melhor em relação a outras cidades. São profissionais qualificados para promover o atendimento e ajudar essas mães”, conta.