A alta do juro bancário, que atinge a maior elevação em seis anos, um total de 33,9% ao ano em dezembro do ano passado, impacta diretamente o consumidor final na aquisição de créditos junto às instituições financeiras, tanto para trabalhadores quanto para as empresas. Um dos perigos está na má utilização dos cartões de crédito pelos consumidores. É o que alerta o economista Volney Gouveia, gestor do curso de Ciências Econômicas da USCS (Universidade de São Caetano), em entrevista ao RDtv. Segundo Gouveia, cerca de 70% das dívidas dos brasileiros estão concentradas nos cartões de crédito. “Desse total, há um percentual expressivo de consumidores que pagam a fatura na data e cerca de 3% são inadimplentes. Os bancos acabam ‘salgando’ os créditos para cobrir essas inadimplências”, explica Gouveia.
Segundo o Banco Central, nas operações com cartão de crédito rotativo, os juros bancários cobrados das pessoas físicas chegaram a marca de 349,6% ao ano em dezembro de 2021 (a maior desde 2017, que registrou 392,3% ao ano) contra 327,8% ao ano no fim de 2020. O crescimento foi de 21,8 pontos percentuais no último ano. O crédito rotativo do cartão de crédito pode ser acionado por quem não pode pagar o valor total da fatura na data do vencimento, mas não quer ficar inadimplente, por isso o cliente opta pelo pagamento do mínimo da fatura.
Durante a entrevista, realizada nesta segunda-feira (31/01), Gouveia aponta medidas que podem auxiliar clientes a evitar dívidas com cartão de crédito. “Faça o pagamento da fatura no valor total e evite atrasos. Hoje, com atraso, o valor da fatura pode ficar quatro vezes mais caro, o que dificulta o pagamento. Entenda que ao parcelar, você está adquirindo uma dívida a longo prazo e outros gastos devem ser evitados”, ressalta Gouveia. O comportamento do consumidor é uma das preocupações destacadas. “Precisamos entender de que maneira o nosso comportamento está associado ao nosso endividamento. Não adianta resolvermos apenas a situação da macroeconomia, que envolve produção, emprego e renda, é preciso também pensar em ações de educação financeira para mudar o comportamento do consumidor”, afirma.
Para Gouveia controlar os impulsos de consumo é uma das ferramentas para evitar o endividamento. O Brasil é um país de renda média e muito desigual, com padrões de consumo de primeiro mundo, o que leva as pessoas a serem expostas a um padrão elevado e ao consumo excessivo. “Se for obter dívidas, que seja de uma forma inteligente, com negociação de pagamento e preferência na compra à vista. Se parcelar, tenha em mente que é um compromisso a longo prazo, então se organize ou evite novos gastos”, reforça.
Pensando na importância da educação financeira, a USCS já deu início a um projeto piloto junto aos alunos do ensino médio da instituição, em parceria com o Corecon (Conselho Regional de Economia de São Paulo). A iniciativa visa dar acesso aos estudantes a questões como quais gatilhos acionam os desejos de consumo, como multiplicar riquezas, alternativas de investimento e como se endividar de forma inteligente. “Estamos no início dessa ação educativa e a ideia é ampliar a ação para escolas de toda região, mais focada em alunos do ensino médio. E esses estudantes são multiplicadores naturais e levam a informação para toda família”, conta Gouveia.
Além das oficinas de educação financeira, a USCS estuda a criação de Núcleo de Assistência Financeira, com objetivo de atender a comunidade e auxiliar famílias do ABC.