O deputado estadual Arthur do Val pediu sua desfiliação do Podemos nessa terça-feira (08/03). A ação para deixar a legenda ocorre menos de 24 horas após o partido iniciar o processo que poderia culminar na expulsão do parlamentar. Sem partido e com o pedido de afastamento do MBL (Movimento Brasil Livre), o youtuber busca convencer os colegas de Assembleia Legislativa de não ter o seu mandato cassado.
“No Dia da Mulher (8 de março), Podemos recebe e acata desfiliação do deputado estadual Arthur do Val (SP), diante da abertura do processo disciplinar que poderia resultar em expulsão do parlamentar. Ele estava filiado ao partido há cerca de 30 dias”, disse a legenda em nota divulgada para a imprensa.
Arthur chegou ao partido para ser o pré-candidato ao Governo do Estado, porém, viu sua candidatura desmoronar após a divulgação de falas sexistas contra mulheres ucranianas que estavam fugindo da guerra imposta pelo governo russo. Nos áudios, o parlamentar afirma que as mulheres do país europeu eram “fáceis”, pois “eram pobres”.
Após a confirmação feita pelo próprio deputado sobre a veracidade dos áudios feitos em um grupo de WhatsApp, uma série de pedidos de cassação foram protocolados na Comissão de Ética e Decoro da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Carla Morando (PSDB), Márcio da Farmácia (Podemos), Coronel Nishikawa e Thiago Auricchio (ambos do PL), e Luiz Fernando Teixeira e Teonílio Barba (ambos do PT) são signatários dos pedidos.
Na última segunda-feira (07/03), Arthur do Val acabou se afastando do MBL (Movimento Brasil Livre), do qual é um dos fundadores. Integrantes do grupo divulgaram notas afirmando que realmente o deputado cometeu erros, mas houve aqueles que saíram em defesa. Em live, o coordenado do movimento, Renan Santos, chegou a se exaltar com palavrões e arremessando uma caneca após fazer um apelo para que a militância fizesse uma defesa virtual de Arthur pelas redes sociais.
Nos bastidores da Alesp, a situação do deputado é considerada como insustentável, não apenas pelo conteúdo dos áudios divulgados no último final de semana, mas pelo histórico junto a outros parlamentares durante toda a Legislatura, algo que foi lembrado durante a última sessão plenária de segunda-feira.
A expectativa é que até abril a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar possa votar o parecer indicando se realmente haverá o julgamento do caso em plenário ou se mesmo será arquivado. No entorno da sede do Parlamento Paulista, faixas contra Arthur foram afixadas por manifestantes.
Parlamentar fala em punição, mas quer evitar cassação
Horas depois de deixar o Podemos, Arthur do Val divulgou uma carta endereçada a todos os demais deputados estaduais. No texto, o parlamentar admite que errou em relação aos áudios e que inclusive isso gerou problemas em sua vida pessoal.
Apesar de concluir que considera justa uma punição sobre o caso, Arthur deixa claro que uma possível cassação do mandato seria um ato “exagerado”, pois considera que não houve dolo ou prejuízo a terceiros. Além disso, confirmou que não disputará a reeleição neste ano.
Confira abaixo o conteúdo completo da carta de Arthur do Val:
“Serei breve e objetivo nas palavras. Desde minha volta ao Brasil minha vida virou de cabeça para baixo.
Errei, errei feio. Fui machista de fato, desrespeitoso e imaturo. Produzi uma peça que vai me envergonhar pelo resto da minha vida. Tanto pública quanto particularmente.
Gostaria de esclarecer em primeiríssimo lugar que a despeito do conteúdo horrendo dos áudios essa não foi a educação que eu tive em casa. Envergonhei toda minha família e principalmente a minha mãe.
Além do absurdo que foi dito nesses áudios, está havendo uma extrapolação dos fatos. Quero deixar muitíssimo claro que não houve nenhum tipo de assédio. Foram palavras. Palavras horrorosas, desrespeitosas e desprezíveis. Mas foram palavras.
Nessa missão humanitária conseguimos arrecadar R$ 275.366,20, compramos, distribuímos os donativos, ajudamos cinco brasileiros a retornar pra casa e resgatamos duas famílias de refugiados. Pai, mãe e filho. Toda prestação de contas foi enviada para a imprensa e gostaria de enviar esta prestação diretamente a todos os colegas também.
Infelizmente, minha imaturidade manchou este trabalho tão arriscado é necessário. Sei que tais palavras serão usadas contra mim para sempre. E com razão!
Antes de mais nada, apresento aqui o meu peido de desculpas. Sinceras desculpas por ter feito você ter de ouvir essas palavras, desculpas por ter envergonhado o nome desta Casa e, ainda que indiretamente, ter afetado seu trabalho.
Aceito meu farto com hombridade. Devo ser julgado, devo ser punido e vou carregar essa vergonha para o resto dos meus dias.
Estou repleto de problemas pessoais. Envergonhei minha mãe, minhas tias, minha sobrinha e perdi minha namorada. Dizem que os erros nos fazem aprender. Essa lição eu estou aprendendo do jeito mais doloroso possível.
Apesar do meu jeito combativo, midiático e às vezes exagerado, todos que convivem comigo sabem que eu tento ao máximo não ser uma pessoa desagradável. A verdade é que além de ter aprendido muito nesta Casa, de algumas pessoas acabei me tornando mais próximo e fiz muitos amigos também. Agradeço a todos.
Nesta abertura de processo de cassação de meu mandato sei que há uma comoção midiática, que por ser efêmera, passa. Mas a mancha na minha vida permanecerá.
Assumo e entendo a necessidade desta Casa em aplicar-me uma punição. É justo e necessário. Entretanto, peço encarecidamente que considere a ausência de dolo e de dano a terceiros na dosimetria da pena. Se de um lado a punição é necessária, de outro, a cassação se faz excessiva.
Acredito que esta Casa terá a serenidade para aplicar uma pena justa, como suas tradições sempre mostraram.
Aproveito, por oportuno, para comunicar aos colegas que não mais concorrerei ao cargo de Deputado, sendo este meu último ano nesta honrosa casa legislativa”.
(Informações: Leandro Amaral)