De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021, foram contabilizados, em 2020, mais de 62,5 mil pessoas desaparecidas no País. Atualmente no ABC, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, cerca de 87 pessoas estão desaparecidas e para auxiliar famílias na busca por um ente querido, o projeto Espírito de Servir, em São Bernardo, se oferece como rede de apoio, na divulgação e orientação à família. Acesso a informações e a divulgação são as principais dificuldades na busca por desaparecidos, na visão de Isabella Alves, fundadora do projeto, em entrevista ao RDtv,
Segundo Isabella, é preciso ter uma mudança cultural e quebrar o tabu com relação ao assunto para prevenir situações de desaparecimento e ofertar orientações e políticas públicas efetivas. Muitos casos envolvem problemas psicológicos, como depressão ou dependência química, ou são de idosos. “Além disso, a comunicação entre os órgãos que fazem a procura ainda é fechada, é preciso ampliar e trocar informações de forma rápida”, afirma e aponta que dos cerca de 62 mil casos de desaparecimento registrados por ano, apenas 51% são resolvidos.
Outra orientação é que, ao sinal de desaparecimento, a família faça imediatamente um boletim de ocorrência e registre o fato. Se houve uma quebra do padrão de comportamento, quebra de rotina, esse é um sinal de alerta importante. Não é preciso esperar 24 horas, registre um boletim de ocorrência online. “Esperar 24 horas é um mito, só a partir do momento que é feito o BO, é que a pessoa é dada como desaparecida e se iniciam as buscas”, afirma Isabella ao orientar para que a família tenha os dados de características físicas do desaparecido, pois auxiliam na busca em serviços de saúde e a localização entre as pessoas que deram entrada sem documentação, bem como facilitam a identificação por terceiros.
Para auxiliar no processo de busca, o projeto Espírito de Servir conta com páginas no Facebook e no Instagram (@espiritodeservir) para que as famílias possam anunciar o desaparecimento, ampliar as buscas e o acesso às informações que ajudam na procura pelo desaparecido.
O projeto surgiu após Isabella e a família passarem pela experiência do desaparecimento do irmão, por nove dias, em julho do ano passado. “Foi muito difícil e doloroso, e isso nos motivou a ajudar outras famílias, nós não sabíamos o que fazer e aprendemos na dor. Decidimos criar essa rede de apoio, com pessoas voluntárias que entendem a importância e seriedade do assunto. Unimos forças para divulgar, orientar e apoiar psicologicamente as famílias”, conta a fundadora.
Segundo Isabella, a maioria dos casos de desaparecimento recebidos pela rede de apoio é homem, mais de 75%, e a faixa etária predominante é entre 19 e 29 anos. A minoria dos casos envolve crianças. “A maioria dos casos envolve condições psicológicas, pessoas com histórico de depressão ou que estavam em tratamento psiquiátrico. Quando falamos em desaparecimento, nós temos três causas comuns: o desaparecimento voluntário, que acontece por opção da pessoa; o desaparecimento involuntário, que envolve a questão de saúde; e o desaparecimento involuntário, que envolve crimes”, explica.
De todo o Brasil
O projeto possui atualmente cinco voluntários e conta com 75 casos ainda sem solução. Mas 155 já passaram pelos cartazes, que Isabella monta sempre que recebe novo desaparecimento. “No início o foco era ajudar famílias do ABC, mas com a repercussão do trabalho ajudamos hoje famílias de todo País”, conta. “Nunca perdemos a esperança de encontrar, temos casos de desaparecimentos recentes e casos que já chegam há 20 anos, e tratamos todos os casos com o mesmo carinho. É uma dor que não cicatriza e a família tem que renovar a esperança desse reencontro”, afirma Isabella, que aceita ajuda para impressão do material.
Abaixo, veja parte da entrevista, vídeos de divulgação e cartazes de desaparecidos. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 98479-3041.