ABC - quinta-feira , 16 de maio de 2024

Sem teatros de maior capacidade, ABC sai do circuito dos grandes espetáculos

Produtores lamentam o teatro municipal de Santo André fechado. (Foto: Alex Cavanha/PMSA)

O ABC tem poucos espaços em condições de receber espetáculos teatrais e shows musicais e de humor que atraiam grande público. Os poucos espaços que reabriram, com o arrefecimento da pandemia da covid-19, não oferecem estrutura suficiente e os agentes culturais até desistem de trabalhar com os espaços disponíveis no ABC.

“Eu sempre mandei espetáculos para o ABC, é uma região que tem um público maravilhoso, que consome cultura, eu lotei espetáculos de teatro, de tango e de humor, mas agora prefiro viajar o Brasil e deixar a região de lado por enquanto para ver o que acontece”, relata Wil Lanzillo, dono da CA Produções, com mais de 30 anos atuando na produção cultural.

Newsletter RD

Segundo o produtor os poucos espaços em funcionamento têm menos de 500 lugares o que inviabiliza a realização de espetáculos que atraiam grande público. “Um dos poucos espaços que a região tem, o teatro Lauro Gomes (São Bernardo) que tem 526 lugares é onde ainda se consegue trabalhar”, diz o Lanzillo que recentemente trouxe o cantor Pedro Mariano com boa bilheteria. “Mas há necessidade de receitas maiores. As pessoas acham que todo o espetáculo é viabilizado por lei de incentivo; essa verba existe, mas é pouca e 90% dos projetos vivem de bilheteria”, aponta o produtor. “O teatro Elis Regina (São Bernardo), por exemplo, já era pequeno e depois da reforma diminuiu mais”, continua.

Lanzillo pontuou o teatro municipal Maestro Flavio Florence, que fica no paço municipal de Santo André, que está fechado desde o início da pandemia e a prefeitura informa que vai reformar o espaço. “É um teatro muito importante, que fechou antes da pandemia e ainda não reabriu. Entendo que é um espaço tombado, mas poderiam ampliar de alguma forma, mas está fechado sem nada acontecendo lá e é um local tão importante para a cultura”, lamenta.

Outro espaço cultural do ABC é o Teatro Municipal de Mauá e Lanzillo tenta agenda para o segundo semestre. “Sei que reabriram e que chegou ter problema com enchente. Em junho para tudo por conta da Festa Junina que acontece no paço e eles usam o teatro como um grande camarim. Acho que vamos conseguir uma data em julho”.

O Teatro Clara Nunes, em Diadema, tem 377 lugares e está aberto, mas sua concepção e projeto também não viabilizam eventos com grande público. Eu levei lá o Tiago Ventura (humorista) foi muito bom, mas é pequeno e inviabiliza trazer o artista para uma bilheteria pequena. Em João Pessoa (PB) o mesmo espetáculo reuniu 3 mil pessoas”, exemplifica o produtor cultural.

Outra produtora ouvida pelo RD, já entende que, apesar da dimensão, o teatro de Diadema ainda é o melhor lugar. A produtora pediu para não ser identificada, mas disse que trouxe uma peça de teatro que conseguiu boa bilheteria. Ela e Lanzillo criticaram a inauguração tão esperada do Teatro Carlos Gomes em Santo André, que não tem infraestrutura montada para espetáculos. “O teatro funciona das 9h às 15h como se fosse uma repartição pública. A inauguração do Carlos Gomes é uma falácia”, diz a produtora. “Em São Caetano com o Paulo Machado fechado só resta o Santos Dumont que é pequeno e em São Bernardo tem só o Lauro Gomes. Tem peças fantásticas querendo vir para o ABC, mas não tem espaço”.

“Eu já trouxe espetáculos com Antonio Fagundes e com Denise Fraga para o teatro Paulo Machado, agora não tem lugar no ABC para mandar. As prefeituras só investem em espetáculos de rua, peças menores, nada contra porque tudo isso é cultura, mas a região sempre teve protagonismo e poderia estar no circuito das grandes peças, mas falta a Cultura ser tratada como prioridade, como outras áreas da administração”, completou Lanzillo.

O que dizem as prefeituras:

São Caetano

A prefeitura de São Caetano informou que seu plano é reformar o Teatro Paulo Machado de Carvalho, mas a licitação não teve início. “Está dentro do cronograma da Seohab (Secretaria de Obras e Habitação), mas ainda em processo de licitação. A Secretaria de Cultura tem uma estratégia de incentivo à economia criativa para artistas e produtores, sobretudo locais, focando em atividades que também favoreçam o ecossistema econômico artístico, gastronômico e comercial. A proposta é oferecer atividades culturais e artísticas que cheguem ao público, produzam a formação e o fazer de artes, incentivem o ofício criativo de artistas e estimulem atividades econômicas locais. Quanto a espetáculos produzidos, São Caetano conta atualmente com o Teatro Santos Dumont, com capacidade para 370 lugares, com ativa agenda semanalmente”, diz a administração em nota.

São Bernardo

“A Prefeitura de São Bernardo informa, por meio da Secretaria de Cultura e Juventude, que, além do Teatro Lauro Gomes, que possui 526 lugares e tem recebido grandes apresentações teatrais e musicais, o município também conta com o Cenforpe, no Bairro Planalto, que possui 598 assentos na parte superior e 1.106 na plateia inferior, somando 1.694 lugares. Neste momento, não há previsão de reformas dos teatros para o aumento da capacidade de público, tendo em vista que os equipamentos comportam a demanda e estão em funcionamento normalmente”.

Santo André

A prefeitura de Santo André informou  que o Teatro Municipal Maestro Flavio Florence terá investimento de R$ 800 mil em reformas e deve ser reaberto no segundo semestre. O municipal andreense tem 475 assentos. Sobre a infraestrutura para o Cine Theatro Carlos Gomes, a prefeitura não se manifestou. “Entre as intervenções já executadas na reforma do Teatro Municipal está a entrega das poltronas restauradas, realizada no ano passado. O restauro resgatou o desenho original das poltronas, elaborado pelo designer-arquiteto Jorge Zalszupin. Outro serviço já executado é a troca da cobertura do teatro. Estão previstas ainda: impermeabilização, revitalização do saguão, readequação da bilheteria, revitalização e readequação do sistema de iluminação cênica e sonorização e da iluminação ambiente, além da garantia de acessibilidade total ao público”, detalha nota da prefeitura.

Sobre o Cine Theatro de Variedades Carlos Gomes a proposta é a utilização do edifício como uma praça coberta. “Seguindo os princípios contemporâneos de intervenção em patrimônio histórico, o projeto contempla a transformação em um equipamento multifuncional e flexível, voltado às diversas formas de manifestações artísticas e atividades culturais, além da convivência social. O equipamento possui 200 cadeiras móveis próprias, que podem ser posicionadas conforme necessidade de cada evento. Há ainda 30 bancos modulares, que podem ser dispostos em diversos formatos como arquibancada, por exemplo.  O Carlos Gomes conta também com espaço permanente de leitura com mesas e cadeiras que oferece com livros para os públicos adulto e infantil para utilização no local. O acervo, que conta com cerca de 60 títulos, é trocado quinzenalmente. Demais itens de mobiliário estão comprados e serão instalados em breve. Estão guardados móveis de escritório e demais itens do salão principal. Iluminação e som estão sendo contratados, em 120 dias aproximadamente teremos o projeto para contratar os serviços”, sustenta a administração. Sobre o teatro Conchita de Moraes a previsão de entrega é dezembro deste ano e quando pronto terá. Terá 205 lugares.

Sobre a programação para grandes espetáculos a administração andreense diz que a programação oferecida pela Secretaria de Cultura de Santo André é realizada, primordialmente, por meio de editais, como forma de democratizar o acesso e valorizar os artistas locais. “No caso dos teatros municipais não há editais, mas sim uma Comissão de Pauta com a função de avaliar e selecionar os projetos que solicitam data nos equipamentos. Também há previsão de contratação de um captador de espetáculos para os três locais a partir de 2023”.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes