A alta dos casos de covid-19 no último mês, de 83% entre abril e maio, ilustra em números o que se vê nos postos de saúde. Nos últimos dias o RD tem noticiado também o fechamento de salas de aula e escolas inteiras por conta do número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus ou sintomas gripais. Em meio a isso o governo anunciou a prorrogação da campanha de vacinação da gripe e também a quarta dose contra a covid-19 para maiores de 50 anos, que ainda depende de uma regulamentação. Para falar sobre as vacinas o RDTv ouviu o médico infectologista Juvencio José Duailibe Furtado, que é professor da especialidade no Centro Universitário da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC). Ele reforça que a vacina é a única forma de evitar que o vírus causador da covid-19 continue circulando.
Ao falar dos baixos índices de vacinação com a segunda dose entre as crianças menores, e o baixo comparecimento nos postos de vacinação daqueles que já poderiam ter tomado as doses de reforço, Furtado atribui isso à desinformação e ao próprio arrefecimento da pandemia. “Existem, infelizmente, campanhas contra a vacina, isso talvez tenha impactado de alguma forma, a outra explicação é que as pessoas estão acomodadas; não estão vendo a doença caminhar de uma maneira tão grave e aí acabam relaxando nas vacinas, que são fundamentais na vida de todos nós, desde a infância até a idade adulta. Manter um calendário vacinal adequado significa saúde, e neste caso da gripe e da covid, é fundamental que as pessoas se vacinem. Então é importante que todas as pessoas que estejam na faixa preconizada para vacinação se vacinem. A vacina é fundamental para a sua saúde e não podemos abrir mão delas, da segunda da terceira, as doses de reforço todas elas devem ser tomadas no tempo certo. Aí vai um apelo a todos que procurem os postos de saúde e tomem suas vacinas”, diz o especialista.
Reforço
O médico explica porque as doses complementares e de reforço são necessárias no caso da covid-19. “As vacinas da covid são vacinas muito novas e tem um tempo onde os anticorpos persistem no nosso organismo, depois de passado algum tempo, isso varia de cada vacina, mas em torno de 4, 6 ou 8 meses o nosso sistema imune já não responde a elas, então precisa de uma dose de reforço, o que chamamos de booster, ou seja, uma dose que reforça e estimula a produção de anticorpos para que, quando tiver contato com esse vírus, ou não se adquire a doença, ou que seja uma doença leve”, explica Furtado.
Crianças
“A questão da vacina das crianças, como de todos, é a circulação do vírus. Todos aqueles que são pais sabem que a criança vai para a escola, traz um vírus respiratório para casa e transmite para toda família, então quanto mais essas crianças estiverem vacinadas menos o vírus circula, e menos vírus circulando, menos crianças doentes e menos familiares adoecendo. As crianças são o veículo das infecções virais para a residência. Isso só se é combatido de uma maneira; vacinar o maior número possível de crianças e os adultos também com todas as doses”.
Leitos
Segundo Juvencio José Duailib Furtado não há mais tanta pressão sobre o sistema de saúde justamente por conta da vacinação. “O retrato de agora é de que não existe exaustão de leitos no Estado e no Brasil inteiro, existem leitos disponíveis para pessoas que eventualmente precisem. Nós sabemos isso é por conta das pessoas vacinadas, que as que adquirem mas têm, de uma forma geral, de uma doença mais. Essas variantes atuais não têm uma manifestação muito grande pulmonar como havia na infecção anterior nas primeiras variantes, mas é importante que essas pessoas estejam imunes e vacinadas para impedir que esse vírus circule. Não temos pressão em leitos hospitalares nem em UTIs, mas temos muitas pessoas infectadas”, aponta.
Grávidas
As grávidas têm uma propensão muito maior de se desenvolverem a covid-19 se infectadas e é esse público e também as puérperas, ou seja, as que deram à luz recentemente, os grupos com maior abstenção de segundas doses e as de reforço. “As gestantes têm uma variação da sua resposta imunológica e portanto ficam mais suscetíveis, mais expostas às doenças virais. Com isso as doenças respiratórias acabam tendo uma gravidade maior nessas mulheres, por isso elas necessitam estar imunizadas”, orienta o médico.
Máscara
Para Furtado a máscara deve continuar sendo usada em ambientes com várias pessoas e fechados, ela continua sendo eficiente proteção. “As pessoas já deveriam ter adquirido esse conhecimento; máscara não é adereço, não é enfeite, ela tem uma argumentação científica para o seu uso. Quando você tiver alguma doença respiratória, qualquer que seja, para evitar que outras pessoas adquiram essa doença é necessário o uso de máscara. Tem que existir um bom censo no uso, se qualquer um de nós estivermos em um ambiente com muitas pessoas, numa reunião, festa ou transporte público deve usar máscara sim para se proteger em parte, mas principalmente para não transmitir aos outros. Esse é um momento fundamental para que as máscaras serem bem utilizadas. Nas salas de aula a mesma coisa. Ficaremos muito felizes o dia em que todo mundo tiver consciência de utilizar máscara. Também não adianta ficar com a máscara no bolso ou na bolsa tirando e colocando, usando várias vezes a mesma, que acaba contaminando de alguma forma”, diz o infectologista.
Na escola o bom senso deve prevalecer também segundo Furtado. “Na aula, depende da sala, depende da distância entre as crianças, da ventilação. A tendência atual é que haja necessidade de usar, quando usa regra muito rígida as pessoas tendem a não aderir, professores e alunos deveriam ter o bom senso de usar. A máscara deve ser usada até que se diminua o número de casos como vem acontecendo”, diz o médico fazendo um apelo para que todos se vacinem. “Não tenham medo da vacina, o efeito colateral de uma vacina é como o de qualquer medicamento”, conclui.