Um dos maiores desafios no monitoramento de doenças neurológicas, a exemplo da demência, é a falta capacitação para profissionais da área. De acordo com a neurologista e docente do curso de Medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Claudia Cristina Ferreira Ramos, isso tem se tornado cada vez mais comum, e a falta de entendimento do Estado pode dificultar ainda mais o acompanhamento das enfermidades.
Em entrevista ao RDtv, a profissional relata que a é necessário separar momentos específicos para que o médico e/ou equipe de Saúde tenham novas oportunidades de formação e capacitação. “Só assim se torna possível melhorar a prática e aprender novas formas de tratamento para atualização do conhecimento”, diz.
Cristina expressa, ainda, que não existe na grade nos médicos um momento separado para esta qualificação. “Devemos ter períodos durante as semanas onde o especialista não tenha atendimento com o paciente e, dessa forma, crie mecanismos como protocolo de acesso, discussão de casos clínicos para poder aprimorar as capacidades”, pede a docente.
Na última semana de junho, a USCS divulgou uma Guia Prático sobre demências, com a contribuição de vários professores da universidade. O documento esclarece que com o crescente envelhecimento populacional, houve aumento no número de doenças crônicas e degenerativas, dentre elas, a síndrome demencial e, segundo Cristina, o Brasil tem, atualmente, cerca de 50 milhões de pessoas com quadros demenciais. “Para pacientes acima dos 65 anos, temos 1% desta faixa etária acometida e, com o avançar da idade, em idosos com 85 anos ou mais, a chance do diagnóstico da doença cresce para 40%”, expõe.
A neurologista explica que a demência se trata do comprometimento cognitivo associado a uma perda de funcionalidade, ou seja, dificuldade para executar tarefas diárias. “Os pontos cognitivos que podem ser afetados são: memória, orientação, abstração, capacidade de aprendizagem, percepção visuoespacial, funções de linguagem, praxia construtiva e funções executivas superiores, como planejamento, organização e atividades de elaboração de sequências”, explica Cristina.
Sobre o tratamento, a neurologista afirma que existem muitas possibilidades para tratar o paciente diagnosticado com demência. Entre os principais focos do processo está a melhora da qualidade de vida e, dessa maneira, o controle dos sintomas que atrapalham o dia-a-dia do paciente e cuidador. “Ainda estamos estudando a relação das medicações com a possibilidade de modificar o curso da doença, embora melhorem o padrão da patologia, não oferecem melhora na qualidade de vida do diagnosticado com demência”, diz.