Santo André abriu as portas das residências terapêuticas para acolher dois moradores, vinculados ao ABC, que estavam internados em hospitais psiquiátricos do interior de São Paulo e aguardavam vaga. A transferência faz parte do processo de desinstitucionalização que ocorre em todo o País.
Eurismar Marques Alves, 47 anos, que convive com histórico de internações psiquiátricas desde a adolescência, agora mora na Residência Terapêutica Uruguai, no Parque das Nações, em frente ao Caps (Centro de Atenção Psicossocial) Chile. Alves estava há oito anos internado no Hospital Psiquiátrico Francisca Julia, em São José dos Campos, e há três aguardava processo de desinstitucionalização. Com vínculo em Mauá, mas foi beneficiado por uma vaga solidária aberta por Santo André.
A psicóloga Ariana Silva, gerente administrativa das Residências Terapêuticas de Santo André, ressalta que a articulação para abrir vaga contribuiu para diminuir o tempo de institucionalização de Eurismar. “O que consideramos ser o principal objetivo no campo da saúde mental e do nosso trabalho. Ele foi acolhido pela equipe e segue em processo de adaptação na casa, com muitas ambivalências quanto às possibilidades que tem lhe sido apresentada neste novo momento”, comenta.
A decisão de abrir vaga solidária para Eurismar foi incentivada pela coordenadora de Saúde Mental, Marinês Santos de Oliveira. Marinês conta que existe processo de desinstitucionalização no País desde 2000, mesmo assim ainda há mais de 700 moradores em hospitais psiquiátricos no Estado de São Paulo. Os municípios recebem o censo da área técnica de saúde mental da Secretaria de Saúde do Estado e no último tinha um morador de Santo André, um de Mauá e um de Ribeirão Pires. “Acolhemos o de Santo André e o de Mauá”, diz Marinês.
A outra paciente que estava no censo e foi acolhida por Santo André foi Alaide Severino Sena, 72 anos, que estava no Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes do Espírito Santo do Pinhal, também no Interior paulista, onde permaneceu por 10 anos. Alaide foi acomodada na Residência Terapêutica Espanha, também no Parque das Nações, no dia 28 de setembro.
A adaptação de Alaide está sendo mais tranquila. De acordo com as cuidadoras, ela gosta de fazer trabalhos manuais e, apesar de apresentar delírio persistente, tem interagido com os outros moradores. “Ela é vaidosa, gosta de fazer a unha e usar cremes. Teve dificuldades em entender que teria sua própria cama, seu próprio local de guardar os pertences, bem como de poder sair para comprar roupas”, comenta Ariana, que destaca o fato de a mulher ter três filhos que não vê há nove anos e que um mora em Santo André.
Santo André conta com sete residências terapêuticas que disponibilizam 43 vagas. Moram nestes locais pessoas com sofrimento psíquico, egressas de hospitais psiquiátricos, com institucionalização de dois ou mais anos ininterruptos sem vínculos sociais e familiares existentes ou fortalecidos.
As casas com moradores com menor autonomia possuem técnico de enfermagem, além de equipe que faz a gestão das sete casas composta por gerente, apoio técnico e administrativo. Os 56 cuidadores atuam 24 horas em todas as residências da cidade e ajudam nas rotinas diárias como organizar a casa, preparar a alimentação, lavar e organizar as roupas e acompanhar os moradores pelo território.