Quando se trata da maior cidade da América Latina, São Paulo, todos os números são superlativos, como a população (12,3 milhões segundo o IBGE) e os delitos. Porém, a chance de ter um carro roubado ou furtado em Santo André é 50% maior do que ter o veículo subtraído na Capital. Isso calculado com base de dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública, de número de delitos por 100 mil habitantes e que tem base de 2021. Mas a situação está grave em 2022, segundo dados de monitoramento da Ituran, voltada a rastreamento de veículos particulares e de frotas. Neste ano, a relação entre as duas cidades é de 128,35%, ou seja, a chance de ter um veículo levado por bandidos em Santo André é mais que o dobro do que ter o mesmo carro roubado ou furtado em São Paulo.
De acordo com a SSP, a taxa de roubo e furto de veículos por 100 mil habitantes na Capital, em 2021, foi de 402,75. Em Santo André, o índice é de 696,58. Mauá é outra cidade onde o índice é maior do que o paulistano, 495,10. Em São Bernardo, a taxa é de 383,75; em São Caetano 330,98; Diadema 392,26; Ribeirão Pires, 222,06; e Rio Grande da Serra não teve o índice calculado na estatística da SSP, que considerou o número de delitos insuficiente para o cálculo.
Segundo levantamento da Ituran, a Capital está na frente em número total de veículos furtados ou roubados neste ano, calculando na base de dados da companhia. São Paulo teve 29.269 carros subtraídos, logo na sequência vem Santo André com 3.903. São Bernardo aparece em quinto lugar com 2.024 unidades e Mauá em sétimo, com 1.415. Se calculada a relação do número de roubos para cada grupo de 100 mil habitantes Santo André lidera com 539,17 e São Bernardo vem em seguida com índice 459,24; Mauá fica com 293,73 e São Paulo com menor índice das quatro com 236,11.
Pandemia
Segundo Rodrigo Boutti, gerente de Operações da Ituran, os números refletem um comportamento de alta em todo o Estado e no País. Boutti considera que a pandemia, a necessidade de mais peças de reposição e a dificuldade da indústria produzir componentes durante os dois últimos anos favoreceram o comércio oficial de peças usadas e, junto com ele, o comércio clandestino, que é alimentado pelos carros roubados e furtados.
O gerente diz que o maior culpado é o envelhecimento da frota. “Em 2022 estamos com mais carros na rua do que no período de restrição de circulação e ficamos dois anos praticamente sem a produção de carros novos, então a frota está mais velha e precisando de peças”, explica.
De acordo com Boutti, a alta da criminalidade também aumentou a procura por medidas de proteção do bem. Só a Ituran teve um aumento de 40% este ano em relação a 2021 na procura pelo serviço de rastreamento. Muito do aumento tem outra relação com a pandemia. O maior número de compras online também fez aumentar o furto e roubo de veículos de transporte de cargas e também de motocicletas. As motos são o tipo de veículo mais roubado e furtado, sendo o modelo Honda CG 160 a preferência dos criminosos. O Volkswagen Gol, que deixa de ser produzido depois de mais de 40 anos em linha, é preferido dos bandidos entre os veículos de quatro rodas. “Temos mais furto e roubo do que em 2021, o aumento foi de 76,5%”, diz o gerente da companhia.
Prevenção
Equipamentos de segurança e uma atitude preventiva do motorista podem impedir os furtos de veículos, que é a situação em que o carro é levado na ausência do proprietário. O roubo é uma situação que envolve violência e sua prevenção é mais difícil. “Quando um bandido furta ele quer só o carro, já quando é um roubo há vários fatores. Pode ser que queira o veículo para uma fuga, para cometer outros crimes ou para subtrair outras coisas da vítima. No furto, o carro, em geral, está estacionado na rua, então prefira guardar o carro em estacionamentos, de preferência aqueles que têm seguro, mas a melhor forma diminuir a chance de perder bem é ter um rastreador”, diz Boutti.
No sistema da Ituran, aparecem os locais com maior incidência de ocorrências. Na Capital, bairros como Jardim Pantanal e Jardim Tiradentes têm altos índices e os carros são desmanchados em poucos minutos, não muito longe de onde foram levados. Em Santo André, se destacam os bairros Parque Oratório, Santa Teresinha e a região no entorno da avenida dos Estados.
Aumento dos crimes é tendência verificada neste ano
David Pimentel Barbosa de Siena, delegado de polícia, docente de direito penal e coordenador do Observatório de Segurança Pública da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), afirma que alta no número de roubos e furtos de veículo é uma tendência de 2022, não só na região, mas em todo o Estado. A polícia, diz, tem percebido o ano inteiro o aumento de roubos e furtos em geral, não apenas com relação a veículos. “Temos duas explicações, uma é a pandemia, porque quando a gente compara variações de períodos, em 2021 estávamos sob efeito da pandemia, muita gente trabalhando em casa, nem todas as escolas tinham voltado, a gente voltou a um normal somente este ano”, diz.
A segunda consideração é em relação à pressão que há no mercado automotivo. As peças se valorizaram bastante em 2021 e a indústria não tem conseguido produzir para atender a demanda, tanto que os veículos usados aumentaram consideravelmente o preço. “Há uma pressão maior que acaba impactando nas taxas e os criminosos vão buscar esses veículos”, comenta.
Dicas de como se proteger
Para Siena, o cidadão pode tomar medidas que venham a minimizar a chance de ter seu veículo roubado ou furtado. Afirma que têm pessoas que estão mais suscetíveis a serem vítimas de determinados crimes, outras não. “O que assusta no roubo de veículo ou de celular é que a gente não tem como determinar quem pode ser a vítima, pode ser qualquer um. O grande problema de segurança pública, daquilo que a população entende como sensação de segurança é o índice de roubos”, afirma.
Um comportamento preditivo, segundo Siena, pode ser determinante para que não se sofra abordagem. A vítima mais distraída no veículo no momento de parada e que vai ao celular. Neste momento abre-se uma janela de possibilidade em que ela pode ser abordada. Um comportamento mais atento pode ser um fator muito importante, diz.
Equipamentos no veículo podem colaborar para que sejam evitados o tipo de crime, como instalação de filme escurecido nos vidros, película antivandalismo ou uma blindagem. “São proteções que podem ser determinantes, já que em boa parte dos crimes a vítima se encontra com o carro parado em via pública. Cautela no momento de embarque e desembarque de veículo é outra dica. Muitas vezes a vítima fica perto conversando, neste momento é feita a abordagem, portanto ter um comportamento mais atento é uma grande forma de prevenção”, completa o delegado.