Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002, cuidados paliativos são a assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, diante de uma doença que ameaça a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento. Já o conceito de “Dor Total”, de Cicely Saunders, enfatiza a importância de se interpretar o fenômeno doloroso não somente na dimensão física, mas também nas esferas emocionais, sociais e espirituais.
Bruno Nunes Lapa, médico paliativista da Nobre Saúde, unidade ABC, explica que esse processo envolve família e amigos, além do paciente. “Quando alguém está doente, não está sozinho, a família adoece junto”, diz.
Embora pouco difundida no Brasil, a especialidade diz respeito a forma como encarar a morte “Infelizmente isso não é feito, mas o paciente deveria ter o direito de escolher o que será feito com sua vida”, afirma. O médico explica, ainda, que todo paciente, com o diagnóstico de alguma doença que comprometa a continuidade da vida, tem indicação para entrar em cuidados paliativos.
“Quando esse paciente chega no consultório nos perguntamos se é plausível que o mesmo venha a óbito dentro de seis meses ou um ano, se a resposta for não, ele se torna elegível para os cuidados paliativos”, explica Bruno. O paliativista acredita que, pelo fato de vivermos em uma sociedade cristã, onde a morte é encarada como uma penitência, o preconceito é intrínseco. “Assim como o nascimento é tratado com alegria, a morte também deveria ser”, pondera.
A resistência também existe, e, na maioria das vezes, reside nos próprios familiares ao saberem que a doença é fatal, por vezes até querem esconder. “Os cuidados paliativos envolvem transparência em vários sentidos, esse vínculo de confiança com o paciente e seus familiares é muito importante”, ressalta.
O preconceito é presente, inclusive, entre os pares da medicina. Bruno explica que isso se deve muito ao fato de ser um conceito relativamente novo – que não existia entre as gerações mais antigas. “Eu sinto que os médicos mais novos têm uma sensibilidade maior e conseguem lidar bem com o desfecho da doença”, comenta.
Embora a maior parte dos convênios ainda não cubra esse tipo de cuidado domiciliar, existe a opção de hospitais e clínicas direcionadas aos cuidados paliativos, inclusive com o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Mas tudo se resume em uma única palavra: amor. “Esse paciente precisa de amor, é o medicamento mais eficaz”, completa Bruno.