Cada dia se faz mais necessário pensar na saúde mental da população. Atualmente a demanda de cuidados é maior do que a oferta de serviços. O comentário é de Samanta Pugliesi, professora do curso de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, convidada pelo RDtv para comentar o Dia da Luta Antimanicomial, celebrado em 18 de maio.
Segundo a professora, a data ficou marcada a partir de 1987, quando grupos favoráveis a políticas antimanicomiais se reuniram com a proposta de reformar o sistema psiquiátrico brasileiro. Porém, em 2001 foi instituída a lei nº 10.216, que prevê um novo modelo de tratamento aos portadores de transtornos mentais no Brasil. “O modelo manicomial precisava ser extinto, mas os equipamentos atuais deveriam crescer na mesma proporção das demandas e não é o que vemos”, afirma.
Atualmente existem três tipos de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). CAPS I direcionado a crianças e adolescentes, o CAPS II a pacientes com transtornos resultantes do uso e dependência de substâncias psicoativas e o CAPS III, com unidades 24h que acolhem e promovem a reinserção de pacientes com transtornos mentais graves.
Ainda existem as chamadas residências terapêuticas, que surgem como um suporte dentro da rede de saúde. “Hoje temos clínicas particulares clandestinas que viraram mini manicômios”, relata Samanta. “Daí a necessidade da fiscalização desses espaços”, alerta.
Mas a professora explica que, além dos tratamentos medicamentosos, também são necessários a ampliação da rede de apoio de atendimento, criação de políticas publicas, reabilitação psicossocial e criação de espaços de convivência.
Aproximadamente 1% do orçamento destinado à Saúde é revertido ao atendimento psicossocial. Este investimento reflete diretamente no preparo das equipes das UBSs (unidades básicas de saúde) destinadas ao diagnóstico de casos de saúde mental. “Esses profissionais estão sobrecarregados com as demandas territoriais e isso impede que os diagnósticos de saúde mental sejam realizados de forma eficaz”, diz a professora da Metodista.
Segundo a psicóloga, geralmente a vulnerabilidade emocional da população está ligada à vulnerabilidade social, como moradores de rua e dependentes químicos. Cenário agravado pelo distanciamento afetivo da sociedade em geral. “Hoje em dia as doenças emocionais são tratadas como um inimigo, como uma guerra vencida”, afirma. Samanta alerta ainda para a necessidade do tratamento terapêutico aliado ao medicamentoso. “O caminho é a psicoeducação e a troca de conhecimento”, completa.