Esta segunda-feira, 26 de junho é o Dia Nacional do Diabetes. O endocrinologista Fernando Valente, também professor do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC, avisa que o número de diabéticos no Brasil aumentou significativamente desde a divulgação em dezembro de 2021 pela IDF (International Diabetics Federation), organização que reúne mais de 230 associações nacionais de diabetes em mais de 160 países e territórios, que contou 12 milhões de brasileiros com a doença.
Em entrevista ao RDtv, o médico esclarece que o diabetes não tem cura, mas tem tratamento. Se diagnosticado no estágio limítrofe chamado de pré-diabetes, pode ser revertido com orientação adequada ao paciente, além de mudança do estilo de vida, que inclui controle do peso, alimentação saudável e atividade física. “Os níveis de açúcar podem voltar ao valor normal e também permanecer no pré-diabetes, mas é preciso evitar que evoluam, a pessoa que tem diabetes sempre terá diabetes”, afirma.
Para entender a doença em sua complexidade e as multiformes causas que contribuem para a prevalência é importante dizer que existem tipos de diabetes. O principal é o diabetes tipo 2, que ocorre em 90% dos casos e tem ligação com a obesidade. Atinge também crianças e adolescentes, e com faixa etária, que tem diminuído segundo Valente. Dados anteriores sugeriam a investigação da doença de modo sistemático a partir dos 45 anos e agora temos visto um número maior de vítimas mais precocemente acometidas, homens e mulheres, a partir dos 35 anos.
Na idade mais precoce, o diabetes tipo 1 é uma doença auto imune, e perfaz 5% dos casos. O próprio sistema imunológico ataca o pâncreas e diminui a produção de insulina, o hormônio que faz o controle do açúcar no sangue, importante para a incorporação da energia dos alimentos ao corpo.
Fatores desencadeantes
Fernando Valente ressalta também a influência de fatores genéticos, que fazem com que uma pessoa desenvolva diabetes e outra não, mesmo submetidas aos mesmos fatores ambientais ou de alimentação, prática ou não de atividade física, dados importantes para identificar predisposições para a doença.
O médico frisa, porém, que para prevenir a deflagração do diabetes na pessoa predisposta é imprescindível evitar alimentação menos saudável e hipercalórica, que aumenta o peso e a disposição de gordura na região da barriga, que produz inflamação e dificulta a ação da insulina, exigindo do pâncreas um esforço quatro vezes maior para manter o açúcar normal no sangue. “Muitas vezes a pessoa tem obesidade e a dosagem de açúcar é normal porque o pâncreas trabalha muito e, a continuar nesse ritmo, pode desencadear o diabetes”, explica. Segundo Valente, estudos apontam que no diagnóstico da doença o pâncreas já perdeu até 70% da capacidade de secreção de insulina.
O médico destaca outros fatores desencadeantes menos comentados, mas não menos importantes. Entre eles o sono. “Dormir menos de seis horas já é comprovadamente um fator ligado ao desencadeamento do diabetes”, aponta. Roncar durante o sono, por exemplo, é uma manifestação que levanta a possibilidade de redução do oxigênio no sangue pelo estreitamento da passagem do ar quando a pessoa dorme, o que aumenta a resistência à insulina e pode elevar a pressão arterial. Essa alteração, tecnicamente, chamada apneia obstrutiva do sono, tem ligação direta com o peso corporal, mas pessoas com peso normal também podem ser suscetíveis. A poluição também aparece na lista do risco de desenvolver diabetes.
No campo do combate aos desencadeantes do diabetes, Valente valoriza o papel da atividade física e ressalta que nesse caso a diminuição do sedentarismo não significa apenas fazer exercícios físicos programados, mas é importante também reduzir o tempo sentado que passamos em frente às telas, pois aumenta potencialmente o risco de diabetes.
Provoca outras doenças
Como o diabetes tipo 2 tem correlação com o aumento do peso, a maior parte desses pacientes terá doenças secundárias associadas à obesidade. Uma delas é a hipertensão, que ocorre em 80% das pessoas com diabetes tipo 2, além de alteração de colesterol e triglicérides, verificada em 70% das pessoas. O risco aumentado em quatro vezes de ter infarto e derrame também integra a lista das principais comorbidades associadas ao diabetes tipo 2.
O aumento de acido úrico e o depósito de gordura no fígado, que pode levar ao aumento do risco de câncer e cirrose sem que o paciente tenha ingerido sequer uma gota de álcool, são outros problemas. O especialista faz questão de chamar a atenção uma vez mais para a necessidade de atividade física, alimentação saudável e rica em fibras, folhas, frutas sólidas, legumes, pouca comida ultraprocessada e pouca gordura saturada e trans. Também evitar consumo sistemático de bebidas adoçadas, como refrigerantes e sucos industrializados. “Alimentos não saudáveis não devem ser consumidos diariamente e nem em grande quantidade”, adverte.
Diferença entre hipo e hiperglicemia
“Chamamos de hipoglicemia quando o açúcar cai para menos de 70 mg por decilitro”, define Valente. Ele explica que uma hipoglicemia grave é aquela em que a redução de açúcar no sangue para níveis muito baixos causa palpitação, tremedeira, suores, desorientação, tontura, dificuldade para falar, e pode chegar à perda de consciência, convulsões e morte.
A hiperglicemia, por sua vez, significa elevação de açúcar no sangue a partir de 126 mg de açúcar no sangue em jejum de pelo menos 8 horas. “Nesse caso chamamos diabetes”, diz. Quando fica acima de 180 mg, após as refeições, por exemplo, podem a parecer outros sintomas a depender do valor, principalmente acima de 250 mg, 300 mg: urinar com muita frequência, beber muita água por excesso de sede, fraqueza, e perda de peso, em razão da insuficiência de insulina para incorporar às células a energia dos alimentos. No caso de crianças é comum voltar a urinar na cama e a visão pode ficar embaçada, entre outras manifestações, que podem melhorar for feito rapidamente o tratamento apropriado para abaixar o açúcar no sangue para a normalidade.
Nível de açúcar normal para diabéticos
Fernando Valente ensina que, em geral, o nível de ideal de açúcar para diabéticos é não chegar aos três dígitos, ficar abaixo de 100mg. O endocrinologista ressalta, entretanto, que quem já tem diabetes pode chegar ao valor de 90 ou 100 mg, não deixa de ter diabetes. E alardeia que se o paciente tiver flutuações grandes de açúcar no sangue e tendo picos de 250mg, 300mg repetidas vezes por meses e anos aumentará exponencialmente a chance de desenvolver complicações crônicas do diabetes, que na experiência do médico são o maior temor dos diabéticos.
O médico fala de doenças, como cegueira, falta de sensibilidade nos pés, falência dos rins, infarto e derrame, que podem aparecer depois de períodos longos com excesso de açúcar no sangue. “Importante sinalizar que o diagnóstico do diabetes tipo 2 requer investigação para identificar mais cedo essas complicações antes que elas cheguem no estágio muito comprometedor, pois começam de modo silencioso”, recomenda.