ABC - quinta-feira , 9 de maio de 2024

Roubo de veículos cresce 16,46% no ABC em um mês

Tiroteio na hora do almoço de domingo, em rua residencial no Centro de Diadema. (Foto: Reprodução)

Entre junho e julho o roubo de veículos no ABC subiu 16,46% agravando ainda mais a situação já difícil para quem mora no ABC. São Bernardo e Mauá foram as que tiveram a maior alta em 30 dias, 32% e 23,25%, respectivamente. Mas os números não cresceram somente nesta modalidade de crime, os roubos em geral também cresceram 10,60% na região e os furtos de automóveis também subiram 1,35%. O alento é que os homicídios diminuíram de sete casos para um, queda de 85,71%. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública que divulgou os números nesta sexta-feira (25/08).

Os índices de roubos e furtos no primeiro semestre já mostravam que no ABC se rouba e furta mais carros até que na cidade com a maior população e a maior frota de veículos do país, a Capital paulista. No ranking do semestre Santo André liderava no Estado, com índice de 401 roubos e furtos para cada grupo de 100 mil pessoas. A chance de ter um carro roubado ou furtado na cidade do ABC era quase o dobro da Capital. Com os números de julho, revelados pela SSP, a situação fica ainda pior. Entre junho e julho o roubo de carro saltou 5,30%, os roubos em geral, que incluem ataques a residências, bancos, cargas, entre outros, subiram 11,07% na cidade, só os furtos tiveram sensível queda de 4,54%.

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Mas os números de São Bernardo subiram mais.  Os roubos de carros na cidade subiram 32%, os furtos 11,86% e o total de roubos 8,6%. Mauá vem em seguida, com alta de 23,25% nos roubos de carros, de 9,86% nos furtos de veículos e de 32,07% no total de roubos.

A situação é apavorante quanto aos roubos. No domingo (20/08) perto do meio-dia os moradores da rua São Manoel, no Centro de Diadema, foram surpreendidos por um tiroteio na rua. Um casal e uma criança que caminhavam na calçada, vindos provavelmente de um supermercado, foram surpreendidos por dois homens em uma motocicleta, o garupa sacou uma arma e mal teve tempo de anunciar o assalto, pois houve troca de tiros com a vítima. Imagens gravadas por câmeras de segurança mostram que o homem vítima da tentativa de roubo percebe a ação dos criminosos, manda a esposa e a criança se protegerem junto a um muro, saca uma arma e atira nos bandidos que, mesmo em fuga, revidam os disparos. Os vizinhos dizem que foram mais de dez tiros. As marcas ficaram em fachadas das casas e em veículos estacionados na rua. Os criminosos fugiram sem nada levar. Ninguém se feriu, mas a tranquila rua foi tomada por policiais e peritos para o atendimento e registro da ocorrência.

Fonte: SSP

Questão é econômica

Para o professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) nas áreas de filosofia, política e ética,  e especialista em políticas públicas, Daniel Pansarelli, a questão econômica está intimamente ligada ao aumento da violência na região. Segundo ele, a redução do número de indústrias e a consequente oferta menor de oportunidades de trabalho para os jovens favorecem ao aumento da criminalidade.

“É preciso considerar a mudança do perfil econômico no ABC já há vários anos, com a diminuição da atividade industrial e o aumento dos serviços, isso é importante porque a produção industrial gera renda e emprego direta e indiretamente mais que os serviços, no entorno de uma empresa tem todo um setor de serviços que se organiza para atender as necessidades das pessoas e isso gera uma cadeia produtiva indiretamente vinculada. Com a saída de indústrias há um certo empobrecimento da população em geral. A região não substituiu essas indústrias, como a Ford, que saiu mais recentemente, por indústrias tecnológicas, de modo que os municípios vão virando cidades dormitório com parcelas da população que usam as cidades apenas para residência porque o metro quadrado é mais barato que na capital”, analisa o professor da UFABC.

Pansarelli considera que, principalmente, o jovem da região precisa ter assegurada a educação de qualidade e a formação para o trabalho, aliados a oportunidades de emprego para não ser seduzido pelo crime. “Há uma falta de oportunidade de trabalho, emprego e renda o que ocasiona um aumento na oportunidade para a criminalidade. Não sei dizer o quanto esses fatores estão interligados, mas certamente há relação, pois quando se diminui as oportunidades de emprego e renda, aumenta a necessidade de que as pessoas se virem de qualquer maneira, mesmo que inadequada”, afirma.

O professor da UFABC considera que a região deve definir logo o seu novo modelo econômico para voltar ao desenvolvimento e dar oportunidades de trabalho. “A definição de um perfil de atividade econômica para o ABC é uma discussão que precisa ser feita em extrema urgência, quem sabe capitaneada pelo Consórcio Intermunicipal para discussão em nível regional. Uma produção industrial tecnológica deve ser fomentada para reverter esse quadro que favorece o aumento da criminalidade”, diz.

Pacto social para geração de trabalho

Pansarelli também comenta sobre a resposta do Estado à violência. Cita a operação da PM em Santos que já resultou em dezenas de mortos. “A atuação das forças policiais é importante, mas a gente tem exemplos e mais exemplos de que a violência gera violência. A violência por parte dos criminosos gera uma violência ainda maior por parte dos policiais, mas o contrário também é verdade, uma agressividade inadequada ou desmedida por parte dos policiais também gera um aumento da violência e da criminalidade e quem fica no meio disso tudo é o cidadão. É necessário que haja uma segurança pública equipada e bem instruída, mas também entender que a violência é um problema educacional antes de ser um problema policial, é falta de oportunidades adequadas de educação e de emprego que facilitam que jovens vislumbrem uma oportunidade, ao invés de sucumbir ao crime. Vejo o trabalho policial como importante, mas não há que se esperar que a polícia apenas dê conta de sanar essa questão, porque a forma que ela tem de fazer é a repressiva e isso tende a gerar mais violência, como a gente vê agora em Santos, mas também como a gente viu no passado no Salve do PCC, isso não vai tornar as cidades mais seguras para os cidadãos. É preciso um pacto social para a geração de trabalho e renda e apontar oportunidades para os jovens terem opções melhores que a do crime”, completa.

 

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